Um mercado financeiro bem conduzido é de muita valia para as famílias

Crises financeiras são uma característica quase normal do nosso sistema econômico atual, e os seus próprios estudiosos (e defensores) já admitem tal característica desde os estudos do economista russo Nikolai Kondratiev sobre ciclos de negócio, em 1925. Mais tarde, o austríaco Joseph Schumpeter, que se encontrava diametralmente oposto a Kondratiev na escala política, incluiria parte dos seus achados para desenvolver sua teoria de “destruição criativa”.

Logo, a instabilidade econômica já está inerente ao sistema e requer, por isso, que seja sempre criada uma margem de segurança via investimentos com pouca volatilidade por parte das famílias, para que tais crises não afetem seu modo de vida de maneira tão profunda. Entretanto, atividades como investir em ouro ou em letras do Tesouro Nacional, que são investimentos que têm como característica a baixa volatilidade e a tendência de ganhos a longo prazo, para obter essa segurança em tempos de estresse financeiro, é algo que nem tantas pessoas fazem – talvez por ainda não terem muito conhecimento a respeito dessas práticas. Dessa forma, a vulnerabilidade perante os ciclos de negócio das empresas e as crises que advém do sistema continuam nos deixando altamente expostos aos piores problemas da nossa economia, afetando nossa capacidade de manter as obrigações e as benesses que tal esquema econômico nos proporciona.

Boa parte do problema da falta de investimentos pessoais vem obviamente da falta de recursos de uma grande fatia da população, que simplesmente não consegue ter o excedente necessário para começar a angariar fundos para um investimento futuro. Entretanto, isso não exclui outro fator muito importante na equação como um todo: a falta de informação quanto ao mercado financeiro e a sua finalidade.

Investir em Ouro

Fonte: Pixabay

De fato, a especulação rampante é quase sempre prejudicial à economia, como já diriam os estudos do economista estadunidense Hyman Minsky, por sempre requerer intervenção estatal para salvar instituições que se tornaram “muito grandes para quebrar”. Esse processo acaba se tornando negativo para as famílias, que podem acabar perdendo seus recursos de vida – como aconteceu durante a crise de 2008, na qual milhões de pessoas nos Estados Unidos perderam suas casas por terem de devolver hipotecas milionárias que foram geradas à base da criação de bolhas imobiliárias.

Entretanto, a missão final do mercado financeiro não é a geração de esquemas complicados cuja intenção final é provocar malefícios à sociedade para o benefício de alguns poucos. Pelo contrário. O papel do mercado, quando bem conduzido, é financiar iniciativas tanto por parte dos empresários quanto por parte das famílias para a garantia e realização de investimentos produtivos, garantia de fluxo de caixa, compras de bens imóveis, entre tantas outras coisas que fazem parte do nosso dia a dia.

O “preço” que se paga pelos adiantamentos que os bancos provêm a partir dessas movimentações são os juros, e a legitimidade dessa cobrança é debatida desde os tempos da Mesopotâmia. Uma das discussões mais relevantes dos últimos tempos foi levantada pelo antropólogo estadunidense David Graeber em seu livro Dívida: os primeiros 5.000 anos cuja teoria principal gira em torno de como as dívidas, incluindo a bancária, estão por trás da criação da moeda e de tantos outros elementos econômicos que sobrevivem até os tempos atuais.

Até mesmo o economista e filósofo alemão Karl Marx reconheceu o papel importante do mercado financeiro no sistema econômico, auxiliando o crescimento da indústria e também as “leis de movimento” reveladas por sua teoria quando o mesmo não mergulha no seu lado mais especulativo e volátil. Portanto, torna-se difícil “fugir” do âmbito financeiro da nossa economia.

Fonte: Pixabay

Como muitos socialistas e comunistas já reconhecem e sempre levantam em suas discussões com aqueles que condenam suas posses pessoais no espectro oposto da política, a filosofia de Marx e daqueles que seguem sua linha não é um voto de pobreza. Pode-se argumentar até mesmo o contrário, uma vez que pela teoria do valor-trabalho de Marx e seus "discípulos", os bens produzidos no sistema econômico vigente têm como fonte de valor os esforços anteriores e presentes dos trabalhadores em desenvolver capital intelectual e produtivo para produzir peças de tecnologia de ponta, como, por exemplo, um iPhone – que inclui em seu projeto várias tecnologias desenvolvidas em programas governamentais.

Ao mesmo tempo, viver “fora do grid” é algo que muitas vezes é permitido apenas para aqueles que já possuem quantias razoáveis de dinheiro. Ainda que alguns tenham a preferência de seguir tal caminho, torna-se difícil fazê-lo sem um arcabouço financeiro que permita trazer ou fazer por iniciativa própria vários dos nossos confortos.

Logo, por mais problemático que seja o sistema, não basta ficar isolado a ele. O plano de curso ideal é fazer exatamente o oposto: usar das suas próprias ferramentas, como o mercado financeiro, para garantir seus recursos em tempos de crise. E, com tais recursos, atingir novas plataformas e se integrar, ou até mesmo formar movimentos que ajudem a alcançar as mudanças necessárias para um plano econômico mais justo e menos desigual.


PUBLICIDADE

Veja também