Esta página é baseada no universo mágico de Franklin Joaquim Cascaes. Todas as informações que constam aqui foram retiradas da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, nome do acervo que preserva a obra do artista catarinense e que está sob os cuidados da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc).
Franklin Cascaes, em mais de trinta anos de trabalho, reuniu uma grande quantidade de informações sobre o folclore de Florianópolis por meio de pesquisas e entrevistas com antigos moradores da Ilha.
..."esta ilha, antiga Nossa Senhora do Desterro, mergulhava até há bem poucos anos atrás nas brumas das lendas de seres imaginários: boitatás, lobisomens, fantasmas, feiticeiras, bruxas e embruxados que arrastavam suas sinas nas horas mortas da noite, pelas matas e na imensidão dos mares"... trecho do conto Balanço Bruxólico.
Franklin Cascaes, o Poeta de um Povo
Seo Francolino, como é conhecido Franklin Joaquim Cascaes, foi um homem, que por meio da arte e da literatura, conseguiu traduzir com muita leveza a cultura recheada de lendas do povo da ilha.
Nascido em 1908, iniciou seu trabalho muito novo. Ainda jovem fez suas primeiras esculturas, e o famoso presépio estilo barroco na Praça XV de Novembro, que desde então faz parte das tradições natalinas. Já com os estudos foi diferente. Seu pai achava que, por ser de família pobre, ele deveria trabalhar e não perder tempo indo para a escola. Foi por isso que Cascaes só começou a vida acadêmica perto de seus 20 anos. E com 33, já se tornaria professor da Antiga Escola Industrial de Florianópolis.
Mas foi nos anos 40 que uma decisão em sua vida promoveu seu trabalho; e fez com que hoje em dia existisse este arsenal de saber ilhéu. Cascaes migrou para a vida rural e passou anos recolhendo informações do litoral catarinense, por meio dos pescadores, de suas estórias, enfim, de vidas inteiras de poesias humanas.
Ele deixou um legado com esculturas, desenhos, livros, jornais, e até instrumentos antigos usados pelos moradores de Florianópolis. Você pode encontrar todo o material exposto no Museu de Arqueologia e Etnologia ou como também é conhecido Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral. A coleção leva o nome de sua mulher, a professora Elizabeth Pavan Cascaes.
Seo Francolino morreu em 1983, deixando não apenas a sua coleção, mas o significado de crença. Desfavorável à destruição da natureza pelo homem e suas indústrias, lutou até o final contra as bruxas da modernização. Faz viver alegria e memórias no coração de todos os manezinhos, que o homenagearam singelamente dando o seu nome para a Fundação Cultural de Florianópolis. Francolino é o responsável por termos, em tempos de videogames e filmes em três dimensões, o conhecimento dos personagens que sempre estiveram na imaginação (ou na realidade) dos filhos da ilha da magia, nós, moradores da capital catarinense.
Alguns personagens criados por Cascaes:
As Bruxas
A Ilha de Santa Catarina traz, junto com sua história, as lendas de um lugar encantado e misterioso. São lendas que falam de reuniões de bruxas, bruxas que atacam pescadores, que roubam barcos, bruxas que bailam dentro de tarrafas de pescaria e de vassouras bruxólicas.
Bruxas dando nós em caudas e crinas de cavalos. Madame Estória conta que as mulheres bruxas costumavam, para levar cabo suas malvadezas bruxólicas, roubar cavalos nos pastos e potreiros, fazê-los galopar pelos ares e dar nós indesatáveis nos rabos e nas crinas deles. (CASCAES / Ilha de Santa Catarina).
"Ilha rodeada pelo incomensurável, o desconhecido que atrai e assusta, batendo furioso contra as rochas e transportando as bruxas em suas viagens noturnas sobre vassouras ou em baleeiras roubadas dos pescadores."
As lendas contam sobre dois tipos de bruxas: a terráquea, bruxa por opção própria, e a espiritual - predestinada, devido ao fato de ser a primeira ou a sétima filha de um casal sem varões. De acordo com a tradição, para se evitar essa maldição, a irmã mais velha deve batizar a mais nova.
"Este Boitatá esta passeando sôbre a Ilha de Santa Catarina. É meia-noite. Ele esta apreciando, lá de riba as sessentas praias que ela possue, brancas quiném jasmim. Para afugentá-lo a pessoa que o avista deve chamar a outra que estiver mais perto e gritar assim: zenobra trás a corda do sino mode amarrar o boitatá que ele anda por aqui. Ele foge imediatamente do mundo fascinante da fantasia humana".
Os Lobisomens
Já os lobisomens apareciam com muitas formas. E a transformação, segundo os ilhéus, era assim. Diziam que no meio da noite, o sujeito ia até o lugar onde um animal estivesse deitado. Qualquer animal: cachorro, boi, vaca, porco. Ele então levantava o animal, tirava a roupa e rolava no chão, no calor do outro animal. Aí ganhava a metamorfose de lobisomem, porque ele nasceu com aquele instinto de ser lobisomem, porque ele já tinha toda a propensão.