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Sebastião
Roberto Soares, engenheiro sanitarista, professor doutor
em Gestão e Tratamento de Resíduos e pesquisador
do Laboratório de Resíduos Sólidos (LARESO
) do Departamento de Engenharia Sanitária (UFSC).
Os
assuntos são sistema de gestão ambiental, selo
Verde, ciclo de vida de produtos
|
O
que é a ISO 14.000?
É uma série de normas internacionais voltadas para
a qualidade ambiental. Assim como existe a série ISO 9000
voltada para a qualidade do produto, existe a 14.000 que é
voltada para a qualidade ambiental. Dentro dessa série existem
várias normas. A norma 14.001 trata do sistema de gestão
ambiental. Essa norma é a única atualmente certificada.
Depois existe a 14.004 que estabelece diretrizes de como utilizar
a 14.001. As 14.010, 14.011 e 14.012 são normas de auditoria
ambiental. São normas que já estão em vigor.
No Brasil elas recebem o nome de NBR ISO14.001, etc. Depois existem
as normas 14.040, 14.041 que são voltadas para a qualidade
de vida. A 14.030 é voltada para o Selo Verde. De modo geral,
dizem respeito à qualidade ambiental. Algumas dessas normas,
como a 14.001 e 14.010, são normas voltadas para a organização
ou empresa. A norma de Selo Verde e Ciclo de Vida são voltadas
para o produto. Essas não estão ainda formalizadas
no Brasil. Estão em discussão.
Como
se faz para implementar essa gestão ambiental aqui na UFSC?
A primeira coisa é vontade. Isso é fundamental. A
partir do momento que existe vontade política, política
no sentido verdadeiro da palavra. Eu acho que não tiver vontade
da alta administração, alta direção,
a gente fala assim quando fala de empresas. Aqui dentro da UFSC,
se não houver uma vontade da Reitoria, não adianta
ficar discutindo.
Essa
seria uma das principais dificuldades?
Eu acho que, hoje, essa é uma das principais dificuldades.
Vontade de dizer o seguinte: olha, nós vamos implementar
isso na parte administrativa e operacional da Universidade. Mas
implantar mesmo. A Universidade já deu um passo interessante
ao criar uma Coordenadoria de Gestão Ambiental. Isso já
é um ponto importante, visto que não é qualquer
lugar que assume isso. A Coordenadoria tem um status importante,
ela está ligada quase que diretamente ao Reitor, ele tem
um acesso bom à informação. Mas é importante
prosseguir nesse caminho. É uma dificuldade? Claro que é.
A Universidade parece uma empresa, hoje, mas uma empresa muito grande.
Ela é uma cidade, tem todos os setores aqui dentro, os próprios
bancos, eles estão dentro dos limites da universidade. Então
implantar um sistema na UFSC que não considere esses elementos
que não pertencem à universidade, mas estão
no nosso domínio. então é difícil. Tem
que envolver todas as pessoas. Primeiro, tem que ter a vontade política
de dizer que a variável ambiental vai fazer parte do nossos
processos operacionais e administrativos. Aí colocar a questão
ambiental no processo operacional e administrativa passa a ser,
às vezes, complicado. Não é o simples fato
de dizer "olha, nós estamos fazendo o processo de coleta
seletiva". é importante, mas não é suficiente.
Tem detalhes como os contratos com fornecedores e sub-contratados,
por exemplo.
Quais
seriam os principais elementos dessa gestão?
A ISO 14.001 tem os elementos mínimos para constituir um
sistema de gestão ambiental. Primeiro, tem que ter uma política
ambiental. A política ambiental é algo assim: a empresa
reconhece formalmente que a variável ambiental deve fazer
parte das suas rotinas administrativa e operacional para tanto se
compromete a respeitar a legislação vigente no local
e a estabelecer um processo de melhoria contínua. Isso pode
ser a política ambiental da empresa. Não precisa ter
mais do que três linhas, mas não adianta escrever e
deixar na gaveta. Uma política ambiental baseada na ISO 14.001
tem que ser divulgada junto ao público. Assumir publicamente
é uma diretriz. O sistema ambiental seria a materialização
dessa política. Digamos, agora eu vou colocar as condições
de como vou colocar a política em prática. O que diz
a norma? Primeira coisa: identificar os aspectos ambientais. Aqueles
elementos que tem uma interface com o meio ambiente. Por exemplo,
tem o Restaurante Universitário que faz a preparação
de alimentos. Essa preparação é um aspecto
ambiental porque quando preparo alimentos eu estou produzindo resíduos,
etc. A partir da identificação dos vários aspectos
ambientais dentro do Campus, eu vou buscar quais os impactos ambientais
que estão associados a esses aspectos. Restaurante Universitário.
quais são os impactos que ele causa? Eu posso ter contaminação
do solo.Veja, estou falando de uma hipótese. O efluente líquido
pode causar contaminação do mangue... Então,
eu tenho que listar todos os impactos associados a esses aspectos
ambientais. A partir desse momento, eu vou seguir outra etapa. Quais
são os requisitos legais que eu devo obedecer? Essa é
uma das premissas da ISO 14.001, que é o atendimento da legislação
local vigente. Qual é legislação vigente em
Florianópolis? Eu tenho que fazer uma pesquisa extremamente
exaustiva de toda a legislação sobre meio ambiente
que estão em vigor na cidade: legislação federal,
estadual, municipal. Aí eu já tenho um parâmetro:
o que eu não estou cumprindo? Bem, eu tenho que me adequar
baseado naqueles impactos que eu causo, eu tenho que ver se eu não
estou descumprindo a legislação. É evidente
que aquele impacto que é um descumprimento da legislação
é prioritário. Aqueles que não são,
eles devem ser atendidos, mas não com tanta prioridade, digamos.
Feito isso, eu poderia estabelecer critérios internos de
desempenho. A empresa pode dizer: olha, eu estou atendendo a legislação
vigente em Florianópolis, mas eu quero ir mais longe, eu
quero atender aquela legislação lá da Suíça.
Ou então, dizer: eu quero cumprir o dobro do que diz a legislação
de Santa Catarina. Então, eu já levantei os
aspectos e impactos, verifiquei quais as legislações
que estão sendo cumpridas ou descumpridas. Agora, eu vou
estabelecer um plano de objetivos e metas. Digamos, o meu objetivo
é o atendimento da legislação. Qual é
a meta? O atendimento dessa legislação em seis meses
ou redução de 50% da poluição atual
em seis meses. (.) A partir desse momento, eu vou estabelecer um
plano de ação propriamente dito. Ou seja, o que eu
vou fazer para cumprir esta meta, como eu vou fazer isso. Isso consiste
a elaboração de um sistema de gestão ambiental.
Claro, descrito de maneira simplista. Depois disso, eu vou ter que
dar condições para garantir a aplicação
desse sistema.
Ou
seja, para implementar a gestão, de fato.
Isso. A primeira coisa é alocação de recursos.
Depois, estabelecer uma estrutura de responsabilidades, como a criação
de uma Coordenadoria de Gestão Ambiental que, no caso, já
está aí. Essa Coordenadoria deve ter poderes para
intervir nos diversos setores e dizer como agir. Tem que fazer também
uma campanha de conscientização e treinamento dos
diferentes atores que trabalham aqui. O sistema, as informações,
tem que chegar até eles. Trabalhar a questão da comunicação.
mostrar que existe uma estrutura que está empenhada em melhorar
as condições ambientais. Documentação.
Tudo isso tem que estar documentado, de modo que se possa acompanhar
o que está sendo feito. Documentação de análise,
por exemplo. Controle operacional. cada setor que tenha uma atuação
específica, o RU ou o Hospital, por exemplo, tem que ter
procedimentos ambientais muito bem estruturados, estabelecidos e
divulgados para as pessoas. Uma última etapa seria a resposta
às emergências. É importante que se faça
um levantamento dentro do Campus dos tipos de emergência que
podem acontecer, naturais ou aquelas provocadas pelo próprio
Homem, e propor soluções para essas emergências.
Embora
a UFSC tenha algumas características similares a uma empresa,
ela também tem outras, distintas. Existe alguma experiência
de aplicação desse plano em instituição
de ensino?
Eu não conheço nenhuma experiência no País
de um sistema de gestão ambiental em Universidade. A única
experiência que conheço, via literatura, é a
Universidade de Barcelona (Espanha). Não conheço a
universidade, mas sei, por comunicações científicas,
que eles implementaram lá um sistema que vai ao encontro
de tudo isso que estou falando. Por que? Eles dizem que o problema
todo para implantação seria essa questão de
incorporar a variável ambiental no setor administrativo e
operacional.
Incorporar
essa variável num ambiente que tem uma população
flutuante, como a Universidade.
É um fator de dificuldade. Tem uma população
que, às vezes, não tem a ver com a Universidade, pessoas
que usam os bancos, e tem aquela população flutuante
como os próprios alunos. Eles passam por aqui dois, três,
quatro anos e depois vão embora. O sistema tem que ser pensado,
na parte de comunicação, tendo em vista essa dificuldade.
Mas
o aluno também pode ser um multiplicador.
Esse é o objetivo. Trabalhar com o aluno como sendo um multiplicador.
Eu acho que a grande importância de se implementar o sistema
de gestão ambiental numa universidade é esse, primeiramente:
o fato de a Universidade ser uma estrutura formadora de opinião.
É aqui dentro que nós vamos formar os técnicos
que vão depois sair para fora, trabalhar. E lá fora
existe, hoje, uma pressão muito grande para que as empresas
incorporem a variável ambiental. Agora, essa população
flutuante. é uma dificuldade. Ainda tem a falta de tradição,
não existe muita experiência na área, mas isso
é um desafio. Por outro lado, essas dificuldades são
amenizadas, digamos assim, por que a Universidade tem, ao contrário
de muitas empresas, setores de excelência que podem contribuir
justamente para a melhoria da qualidade ambiental. O Departamento
de Engenharia Sanitária, por exemplo, que trabalha especificamente
com o meio ambiente. O Departamento de Engenharia Civil que trabalha
com o conforto ambiental das edificações. O Departamento
de Arquitetura que trabalha com urbanismo, com as próprias
construções. Tem o Departamento de Administração
que pode trabalhar junto com todos setores administrativos da Universidade,
buscando viabilizar a questão do meio ambiente dentro do
processo administrativo. Acho que os grandes conhecedores do assunto,
digamos assim, estão aqui dentro. Isso facilitaria muito
a implementação do sistema. Pensando bem, acho em
quatro anos é perfeitamente possível formar as pessoas
para que elas tenham contato com o processo. De qualquer forma,
essas pessoas são apenas um elemento. Nós temos os
funcionários, os professores que não tem essa rotatividade
dentro do ambiente. O máximo que pode acontecer é
uma pequena transição na administração,
mas para isso existe a legislação da universidade.
Todo esse plano não deve ser simplesmente o resultado da
ação de uma pessoa. Isso tem que ser consolidado e
a consolidação seria através de uma legislação.
O
Sr. é um dos pesquisadores do Laboratório de Resíduos
Sólidos (LARESO). Dentro dessa especialidade, quais são
os principais problemas ambientais do Campus?
Tem aqueles problemas tradicionais do meio ambiente: produção
de resíduos, produção de efluentes líquidos.
Todos os setores, o Restaurante, os laboratórios, as lanchonetes,
estão produzindo resíduos. Existem, hoje, alguns programas
na área de resíduos químicos, mas isso tem
que ser ampliado. É o princípio da ISO 14.000, melhoria
contínua. Alguma coisa já está sendo feita.
Nós temos o serviço de compostagem que trabalha com
restos de comida dos restaurantes e das lanchonetes. Isso ajuda
também, mas precisa ser ampliado. Tem resíduo que
ainda não tem destino adequado, só é coletado
pela Prefeitura. Quando digo não tem destino adequado é
porque ele poderia ser trabalhado melhor. Nós temos também
o Hospital que produz muito resíduos e tem uma destinação,
mas isso precisa ser sempre trabalhado e tomado sempre, cada vez
mais, cuidados. Problemas de efluentes liquidos. esse é extremamente
grave porque praticamente tudo vai para o esgoto. Quando se diz
esgoto na Universidade é jogar no mangue. Agora vai sair
uma rede de esgoto que vai amenizar esse problema. Tem outras questões.
O consumo de energia. Com essa campanha do uso racional, está
começando a se tocar no problema. É um problema ambiental
bastante grave. É aquela coisa assim, as pessoas dizem: mas
como é que isso é problema ambiental? Não causa
poluição. Quer dizer, não causa aqui. Está
causando problema onde ela é produzida. Muita da energia
que a gente consome vem, uma parte ou outra, da usina Jorge Lacerda,
que é uma usina termoelétrica a base de carvão
que polui bastante. Basta passar lá e ver aquela fumaça.
O fato de consumir uma quantidade menor de energia estaria reduzindo,
com certeza, essa poluição. A gente pode partir para
outras questões. consumo de água, por exemplo, e para
elementos um pouco menos tradicionais, como a questão do
conforto dentro da universidade. Nós temos aqui um plano
de urbanização que, eu acho, deixa muito a desejar.
A gente pensa nas necessidades físicas de ter as salas, tudo
isso. mas isso não está sendo compatibilizado com
o plano de urbanização do Campus. (.) A gente pode
trabalhar a questão de segurança, seja a segurança
de transporte, seja a segurança dentro das próprias
salas. Não se tem muito essa preocupação no
dia-a-dia. Eu já trabalho aqui há algum tempo e não
lembro de ter sido convocado para fazer uma simulação
de um plano de emergência para incêndio, por exemplo.
Eu acho que a gente acaba não se utilizando do conhecimento
que tem para aplicar dentro da própria casa.
E
o conhecimento que é produzido dentro do seu laboratório?
O Sr. consegue transferir para fora?
Sim. Mais para fora do que para dentro, digamos. Muitas pesquisas
são financiadas pela sociedade externa. Nós temos
pesquisas financiadas pela UFSC, pelo governo federal e pela indústria.
Se o conhecimento não chega diretamente, chega indiretamente
à comunidade externa porque a gente forma um grande número
de pessoas. Temos muitas pesquisas, dissertações,
o doutorado está começando agora.
O
Sr. falou de outras duas normas ambientais: o Selo Verde e o Ciclo
de Vida dos Produtos.
Essas normas são voltados ao produto. Hoje, elas estão
na forma "draft", ou seja, estão na forma de resumo final.
Não estão aprovadas formalmente como a ISO 14001,
14002. Na verdade, hoje existe uma infinidade de selos ambientais.
Tem um material lá que tem um selo de "produto ambiental",
"produto ecológico" que não significam nada, mas as
pessoas se utilizam desse selo como um apelativo de venda. Justamente
para harmonizar tudo isso, para colocar num mesmo padrão,
está sendo criado o Selo Verde. Vai ter descrição
do que significa aquele selo que o produto está recebendo:
consome menos energia, etc. A análise do ciclo de vida é
uma ferramenta que vai ser utilizada justamente para dar esse Selo
Verde. A própria palavra deixa entender alguma coisa. vou
analisar o ciclo de vida desse produto desde a sua criação,
da extração da matéria-prima até a sua
eliminação. Imagine o seguinte: uma garrafa de água
mineral. Vamos analisar essa garrafa desde a extração
do petróleo, supondo que ela seja de plástico, a transformação
desse petróleo em polímero, depois a transformação
do polímero em garrafa, o uso da garrafa e a eliminação
dela. Essa análise considera, em sua essência, um processo
de comparação, exclusivamente ambiental. Não
considera os custos. Por exemplo, eu posso embalar a água
em uma garrafa de PVC ou plástico Pet. Então, eu vou
avaliar os dois processos e fazer a comparação. Essa
garrafa tem um ciclo ambiental. Então, entre os dois processos,
qual tem maior repercussão ambiental? Qual das duas garrafas,
do ponto de vista ambiental, é melhor? Claro, vai ter uma
análise econômica, técnica, etc, mas, do ponto
de vista ambiental, a análise do ciclo de vida serve para
isso, acompanhar todo o ciclo até a eliminação
do produto. Imagina agora dois detergentes, a quantidade para lavar
dez pratos. Então, você vai analisar a fabricação
de dois detergentes e vai dizer "ah, esse aqui é um detergente
que quase não polui, o outro polui um pouco mais". Isso na
fabricação. Depois, eu vou considerar a fase de uso.
De repente, aquele que não polui lá na fabricação,
para utilizar precisa de água quente porque se não
for assim ele não consegue dissolver e não funciona
direito. Esse aspecto precisa ser considerado. Eu vou precisar de
muita energia na hora de utilização. Então,
eu posso dizer que, na fase de fabricação, o produto
1 é melhor que o produto 2, mas na utilização,
ele é pior. As pessoas normalmente não se dão
conta disso. (.) Então, o Selo Verde vai ser dado para uma
categoria de produtos que obtenham determinada performance ambiental.
Eu vou utilizar a análise do ciclo de vida para fornecer
o Selo Verde. Não está aprovado ainda, mas essa é
a idéia.
O
Sr. tem análise de padrões? Dá para dizer quais
produtos poluem mais?
Ah, não. Fica impossível, agora, dizer isso. Depende
muito do uso. Eu posso dizer que a fabricação de um
quilo de PVC é pior do que a fabricação de
um quilo de vidro. É uma hipótese. Porém, depende
muito da utilização que vou dar a esse produto. Não
se fabrica o produto por fabricar. O que deve ser comparado, na
verdade, é a função, não o material
em si. Vamos dizer assim: um quilo de vidro polui menos do que um
quilo de PVC. Agora, eu vou utilizar esse material para produzir
garrafas. O problema é que, com um quilo de vidro, eu vou
fabricar duas garrafas. Com o PVC, eu vou fabricar praticamente
umas cem garrafas. Mesmo que um quilo de vidro polua menos, na hora
de utilizar ele vai acabar poluindo muito mais porque para embalar
cem litros de água eu vou precisar de 50 quilos de vidro
enquanto de PVC eu vou utilizar o mesmo um quilo. O que vai definir
realmente é a função do produto. Vamos pegar
o exemplo do sabão em pó. Digamos, o sabão
A polui duas vezes mais do que o sabão B. Um quilo do produto.
Então, aquele sabão A poluía mais na fabricação,
mas, de repente, na hora de usar, ele é cinco vezes mais
econômico do que o outro. No final, aquele que, num primeiro
momento, poluía mais, vai acabar sendo muito melhor para
o meio ambiente do que o outro.
Mas
esse Selo vai depender, então, de testes exaustivos.
Em algumas situações precisa de muitas buscas de dados.
Mas eu acho que é mais a maneira de abordar o problema, é
onde a gente vê grandes erros na hora de fazer comparações.
Para
a indústria é mais fácil fazer isso durante
o processo de produção, mas como será o acompanhamento
depois da entrega do produto?
Ah, sim.Mas, hoje, existe uma necessidade de a empresa começar
a incorporar essa variável ambiental na hora do projeto.
Eu participei recentemente, no Departamento de Engenharia Mecânica,
de uma dissertação, onde o objetivo era criar uma
metodologia de projeto de produto incorporando a variável
ambiental. Então, já estava se pensando nessa variável.
na hora de desmontar o produto, por exemplo. O simples fato de facilitar
a desmontagem do produto já é uma boa condição
ambiental. Se eu conseguir desmontar facilmente, eu posso recuperar
algumas peças. Imagina um computador. Se eu não conseguir
retirar facilmente o vidro do plástico (do monitor), eu não
tenho condições fáceis de recuperar esse plástico
porque os dois estão misturados. Então, na hora de
conceber o produto, o engenheiro deve pensar assim: vou criar um
parafuso que, se desapertar, sai facilmente, separa os dois processos.
Isso já é uma maneira de pensar ambientalmente. A
empresa tem a obrigação de pensar o ciclo de vida,
sim. Ela está sendo cada vez mais responsabilizada pelo conjunto
das coisas. Existem determinados produtos que a empresa é
responsável pelo resíduo depois do uso do produto.
O exemplo clássico é o agrotóxico. Hoje, o
produtor tem a responsabilidade de recuperar essa embalagem. Também
está se percebendo isso com pilhas e baterias de telefone.
Já está existindo uma responsabilização
do fabricante para recuperar esse material. Por que é um
produto extremamente perigoso para o ambiente depois de ser utilizado.
Se continuar nesse ritmo, eu espero que continue e acelere até,
o produtor vai ser responsabilizado por tudo que ele produz, já
que é uma extensão do produto dele.
E
a questão da energia nesse ciclo do produto?
A energia deve ser considerada em todas essas fases. O consumo energético
deve ser considerado até porque, ao mesmo tempo, que você
está trabalhando a variável ambiental, também
está fazendo, com certeza, um produto mais econômico.
Sem falar que muitos dos sistemas de produção utilizam
energias outras, e não a energia elétrica tradicional.
Tem empresas que precisam de calor, de carvão, etc. Aí
tem que fazer uma análise ambiental mais detalhada, do ponto
de vista ambiental, porque as repercussões são muito
diferentes. Se eu sei que a fonte é a mesma (elétrica),
a única diferença que vai ter de um produto para outro
é a quantidade de energia que ele consome. Se um produto
consome mais, ele vai ter uma repercussão ambiental maior
no tocante à energia. Se eu estou tentando comparar processos
que utilizam fontes diferentes, eu não posso dizer que a
quantidade é o diferencial. Porque muitas vezes eu posso
ter uma energia a base de carvão que pode ser mais poluente
do que uma outra fonte a base de gás. Então, vai depender
da origem dessa energia para dizer qual dos dois processos é
mais poluente.
Quem
vai regulamentar essas normas ambientais?
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
que é um membro da ISO Internacional. O Inmetro credencia
empresas para fazer certificações. Existem empresas
que tem a autorização do Inmetro para dar a certificação
ambiental.
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