Principais
Problemas Ambientais Ligados às Fontes de Energia
Nesta
seção são tratados os seguintes problemas:
Poluição
Atmosférica
A poluição
atmosférica está associada, principalmente, à
queima de carvão e de combustíveis derivados de petróleo
(Os aspectos e impactos gerados pela queima de gasolina e diesel
podem ser vistos na Tabela 1. A ação
dos resíduos sobre a saúde está sintetizada
na Tabela 2). Esses dois insumos alimentam
grandes setores da economia atual, como a própria geração
de energia (termoelétricas), a produção industrial
e o transporte, totalizando aproximadamente 90% da energia comercial
utilizada no mundo. Estima-se que, entre 1960 e 1996, com o incremento
das atividades industriais e de transporte (rodoviário e
aéreo), a emissão de carbono (CO e CO2)
resultante da queima desses combustíveis, mais que dobrou.
O transporte rodoviário, uma das maiores fontes de poluentes,
joga mais de 900 milhões de toneladas de CO2
por ano na atmosfera. De 1950 até 1994, a frota mundial de
veículos (carros, ônibus e caminhões) cresceu
nove vezes, passando de 70 milhões para 630 milhões.
No Brasil, de acordo com o capítulo Cidades Sustentáveis
da Agenda 21, a taxa de motorização passou de 72 habitantes
por automóvel em 1960 para pouco mais de 5 em 1998, podendo
chegar essa relação a 4,3 em 2005, enquanto a quantidade
média diária de viagens por habitante, segundo a projeção,
deve subir de 1,5 registradas em 1995 para 1,7 viagens.
Os efeitos nocivos do crescimento automotivo têm aparecido
continuamente em levantamentos de saúde. Uma estatística,
divulgada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) em 1999, apontou a poluição como responsável
por um número maior de mortes do que o trânsito, em
decorrência de problemas respiratórios ou cardíacos
desencadeados pela exposição contínua ao ar
poluído.
Os pesquisadores europeus, que avaliaram os efeitos da poluição
do ar em três países (Áustria, Suíça
e França), estimam que essa seja a causa de 40 mil mortes
anuais, metade das quais ligadas diretamente à poluição
produzida por veículos automotores. A poluição
gerada (monóxido de carbono, óxidos de enxofre e nitrogênio,
material particulado) pelo transporte também é apontada
como a responsável por 25 mil novos casos anuais de bronquite
crônica e mais de 500 mil ataques de asma. Esses dados confirmaram
informações de pesquisas anteriores, realizadas no
Reino Unido, que mostraram que a poluição abrevia
a vida de 12 a 24 mil pessoas por ano e provoca outras 24 mil internações.
Os dados brasileiros também revelam prejuízos significativos
à saúde, em particular de gestantes, crianças
e idosos. Um grupo da Faculdade de Medicina da USP constatou, em
1997, que a concentração de poluentes atmosféricos
em São Paulo, principalmente nos meses de inverno, pode aumentar
até 12% o risco de mortes por doenças respiratórias.
Os experimentos feitos com animais de laboratório indicaram
que, após 3 meses de exposição aos poluentes,
aparecem sintomas de rinite alérgica e crises de asma, além
da redução das defesas imunológicas pulmonares,
o que dobra o risco de contrair câncer. O ar de São
Paulo recebe, anualmente, cerca de 3 milhões de toneladas
de poluentes, 90% deles emitidos por veículos automotores.
Os efeitos agudos da poluição se manifestam, sobretudo,
durante o inverno, quando a procura por atendimento em pronto-socorros
infantis aumenta 25% e o número de internações
por problemas respiratórios sobe 15% em relação
às outras estações, quando o egime mais intenso
de chuvas e ventos ajuda a dispersar a poluição. Entre
as crianças esse índice chega a 20% e a taxa de mortalidade
de idosos acima de 65 anos, nesse período do ano, aumenta
até 12%.
Tabela
1
Aspectos e Impactos Gerados pelo Uso de Gasolina e Diesel
Aspecto
|
Impacto
|
Tipo
|
Categoria
|
Emisso
de dixido de enxofre (SO2)
|
Chuva
cida
|
Negativo
|
Regional
|
Emisso
de monxido de carbono (CO)
|
Intoxicao
|
Negativo
|
Local
|
Emisso
de dixido de carbono (CO2)
|
Efeito
estufa
|
Negativo
|
Global
|
Emisso
de xidos de nitrognio (NOx)
|
Chuva
cida, formao de oznio de baixa altitude (O3)
|
Negativo
|
Regional
e global
|
Emisso
de material particulado
|
No
identificado
|
-
|
-
|
Emisso
de hidrocarbonetos
|
Formao
de oznio de baixa altitude (O3)
|
Negativo
|
Global
|
Formao
de oznio de baixa altitude (O3)
|
Problemas
no desenvolvimento de plantas, efeito estufa
|
Negativo
|
Regional
e global
|
Emisso
de aldedos
|
Cancergeno
para animais
|
Negativo
|
Regional
|
Tabela
2
Ação
dos Resíduos de Combustível Fósseis sobre a
Saúde
Substncia
|
Efeitos
sobre a Sade
|
NOx
|
Irritao
dos olhos e aparelho respiratrio, efeito potencial no desenvolvimento
de enfisema
|
SO2
|
Problemas
respiratrios, aumento da incidncia de rinite, faringite
e bronquite
|
CO
|
Fatal
em altas doses. Afeta sistemas nervoso, cardiovascular e respiratrio.
Dificulta o transporte de oxignio no sangue, diminui os reflexos,
gera sonolncia
|
O3
|
Irritaes
na garganta, olhos e nariz, aumento da incidncia de tosse
e asma.
|
Hidrocarbonetos
|
Sonolncia,
irritao nos olhos, tosse
|
Aldedos
|
Irrita
olhos, nariz e garganta. Provoca nuseas e dificuldade respiratria.
|
Material
particulado (da queima de carvo)
|
Irrita
olhos, nariz e garganta. Provoca nusea e dificuldades respiratrias.
|
Outra
pesquisa, liderada pelo Laboratório Experimental de Poluição
Atmosférica, também da USP, investigou os danos provocados
aos fetos, apesar da proteção oferecida pela placenta
e pelo próprio corpo materno. A análise comparativa
entre o número de óbitos fetais tardios (ocorridos
após o 7º mês de gestação) e o nível
diário de poluição revelou um número
maior de mortes em períodos mais poluídos. De acordo
com os pesquisadores, dois em cada oito óbitos fetais tardios
estão associados à poluição. Embora
não seja fator determinante para a perda do bebê, a
poluição é um risco adicional à saúde
das gestantes nos grandes centros urbanos.
Aumento
do Efeito Estufa e Alterações Climáticas
A
crescente consumo de combustíveis fósseis também
está alterando o equilíbrio do planeta proporcionado
pelo "efeito estufa", fenômeno que permite manter
uma temperatura terrestre favorável à existência
biológica. Contudo,
a temperatura média da Terra responde ao aumento da concentração
de gases de efeito estufa, pois esses gases, embora não possuam
a capacidade de absorver a radiação proveniente do
sol, podem reter a radiação de retorno, amplificando
os efeitos do fenômeno produzido naturalmente.
Entre os gases de efeito estufa mais conhecidos estão o dióxido
de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido
nitroso (N2O) e os clorofluorcarbonos (CFCs). Os óxidos
de nitrogênio (NOx), o monóxido de carbono
(CO), os halocarbonos e outros de origem industrial como o hidrofluorcarbono
(HFC), o perfluorcarbono (PFC) também são exemplos
de gases de efeito estufa.
Segundo
o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas
(IPCC), o aumento de dióxido de carbono em decorrência
da intensificação das atividades industriais foi o
principal fator que contribuiu para elevar a média da temperatura
entre 0,4ºC e 0,8ºC na superfície do planeta durante
o último século. O relato da Academia Nacional de
Ciências (NAS) dos Estados Unidos durante a realização
do Fórum Econômico, na Suíça, em janeiro
de 2000, confirmou que a temperatura média global nos dias
atuais é substancialmente maior que a taxa média de
aquecimento durante todo o século XX.
Em 1896, as pesquisas de Svente Arrhenius já apontavam indícios
de superaquecimento terrestre como decorrência do aumento
de dióxido de carbono (CO2) produzido pela queima
de recursos fósseis (petróleo, carvão, biomassa).
O assunto permaneceu como tema acadêmico até meados
do século XX, quando estudos experimentais, realizados na
década de 1950, provaram que a composição atmosférica
tinha mudado desde o início da Era Industrial e que o ritmo
dessa mudança poderia estar se acelerando. A quantidade de
dióxido de carbono e metano produzida pela decomposição
orgânica nos lagos represados de grandes centrais hidrelétricas
e o índice elevado de óxidos nítricos expelido
diretamente na camada estratosférica pelo tráfego
aéreo tem sido citados como fatores agravantes do fenômeno.
A contribuição desses gases para o aumento da temperatura
global depende do tempo de sua permanência na atmosfera e
da interação com outros gases e com o próprio
vapor d'água natural do planeta. O dióxido de carbono
é o principal agente da mudança em vista do tempo
de dispersão muito longo e da quantidade gerada pelas atividades
antropogênicas. O metano, embora tenha período curto
de permanência na atmosfera, possui expressiva contribuição
no aumento do efeito estufa porque absorve maior quantidade do calor
irradiado pela Terra. Calcula-se que o metano tem um potencial de
aquecimento atmosférico 56 vezes maior do que o dióxido
de carbono. Os óxidos nítricos, em menor proporção,
também têm a mesma característica de reação
fotoquímica com a luz solar, promovendo a formação
de ozônio de baixa altitude.
Em 2000, o Brasil ocupava a 17ª posição no ranking
de poluidores, emitindo 74,6 milhões de toneladas de dióxido
de carbono por ano. Se as emissões causadas pelos desmatamentos
fossem computadas, o País passaria a emitir 200 milhões
de toneladas a mais, passando para a 5ª posição
no ranking. (Os dados de intensidade energética e emissão
per capita de CO2, por países, está
na Tabela 3. Os dados da emissão de
CO2 por setor de economia, no Brasil, estão
na Tabela 4. O histórico das emissões
de CO2, por fonte de energia, está na Tabela
5).
Tabela
3
Intensidade
Energética e Emissão per Capita de CO2
Pases |
Intensidade
Energtica |
Emisso
CO2 |
|
1980 |
1995 |
1980 |
1995 |
Pases
de baixa renda |
1,11 |
0,91 |
0,90 |
1,40
|
Pases
de renda mdia
Baixa
Renda Mdia Alta
Renda Mdia |
0,83
1,00
0,59 |
0,91
1,00
0,67 |
2,90
2,00
4,60 |
4,50
4,50
4,60 |
Pases
de Renda Mdia
sia
e Pacfico
Europa e sia Central
Amrica
Latina/Caribe |
0,91
n.d.
n.d.
0,45 |
0,91
1,11
1,67
0,50 |
1,50
1,40
n.d.
2,40 |
2,50
2,50
7,90
2,60 |
Pases
de Alta Renda (OCDE) |
0,34 |
0,29 |
12,00 |
12,50 |
Brasil |
0,29 |
0,37 |
1,50 |
1,60 |
Fonte:
Mário Jorge Cardoso de Mendonça, Maria Bernadete
Sarmiento Gutierez, O efeito estufa e o setor energético
brasileiro, Texto de Discussão 179, Edição
própria, IPEA, 2000.
Observações:
Intensidade energética medida em Kg equivalente de
petróleo/US$ produzido, emissão medida em Kg
de CO2/US$. N.d. : não disponível
|
Tabela
4
Emissão de CO2 dos Combustíveis Fósseis
por Setor da Economia Brasileira
(Dados de 1996 em 106 tC de CO2)
Setor |
Quantidade
de Emisso |
Percentagem
do Total |
Agropecurio |
3,9 |
6 |
Industrial |
21,4 |
34 |
Comercial |
0,4 |
1 |
Pblico |
0,4 |
1 |
Transporte |
31,2 |
49 |
Residencial |
5,3 |
8 |
Consumo
Final |
62,7 |
100 |
Fonte:
INEE, Balanço de Eficiência Energética do
Brasil, 2000 |
Tabela
5
Histórico das Emissões de CO2 no Brasil,
por Fonte de Energia
(em Milhões de toneladas de Carbono)
Fonte |
1974 |
1980 |
1986 |
1990 |
1993 |
1996 |
Gs
|
0,49 |
0,79 |
2,27 |
2,72 |
3,05 |
4,01 |
Petrleo |
32,1 |
42,6 |
49,0 |
41,5 |
45,9 |
56,2 |
Carvo |
2,86 |
6,32 |
10,8 |
10,4 |
12,0 |
13,3 |
Total |
35,44 |
49,66 |
52,11 |
54,60 |
61,0 |
73,5 |
PIB
(US$) |
367
|
546 |
621 |
635 |
659 |
749 |
ndice
(kgC/US$) |
- |
-0,94 |
-1,17 |
0,51 |
2,20 |
1,85 |
Fonte:
INEE, Balanço de Eficiência Energética do
Brasil, 2000 |
O estudo
feito por geólogos da Universidade do Texas, Estados Unidos,
demonstrou que apenas 25% da variação total da temperatura
terrestre, no último século, ocorreu por causas naturais,
como erupções vulcânicas e flutuações
na intensidade da luz solar que atinge a Terra. Esses fenômenos
naturais foram os responsáveis pela maior parte das mudanças
climáticas globais verificadas até meados do século
XIX. Os resultados de outra pesquisa, desenvolvida por geofísicos
da Universidade de Utah, registraram um aquecimento médio
global de 1,1ºC desde o início da Revolução
Industrial, no final do século XVIII. Os pesquisadores cruzaram
as temperaturas medidas em poços com até 600 metros
de profundidade com os dados registrados a partir de 1860 por estações
meteorológicas. As temperaturas obtidas são semelhantes
àquelas aferidas por outro grupo de pesquisadores em poços
do hemisfério Sul, durante o ano de 2000, e são coerentes
com os relatórios emitidos pelo Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Mudanças impostas ao equilíbrio do planeta pela atividade
humana, que incluem principalmente o aumento dos gases de efeito
estufa e da radiação solar incidente em virtude da
destruição da camada de ozônio, causada principalmente
pelos compostos de cloro e bromo, sendo o CFC (clorofluorcarbonos)
o principal deles, tendem a acelerar também a alteração
da temperatura oceânica, a circulação associada
entre a terra e os mares, e os tipos climáticos das regiões
terrestres.
O cenário resultante dessas mudanças seriam desastres
como enchentes, fome, epidemias, extinção de espécies
animais e vegetais, desertificação de terras produtivas,
destruição de recifes de coral e submersão
de países do Caribe e do Pacífico, com territórios
ao nível do mar. Os custos para prevenir e contornar as catástrofes
decorrentes das mudanças climáticas e das perdas de
terras agrícolas, água potável, estoques pesqueiros
e produção de energia devem consumir aproximadamente
U$ 300 billhões, a partir de 2050, conforme dados divulgados
por seguradoras ligadas ao Programa das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente. Os dados projetados pelo Centro Tyndall, da
Universidade de East Anglia (Inglaterra), prevêem que o impacto
causado pelo aquecimento sobre determinadas regiões poderá
agravar a situação de países que figuram entre
os mais quentes e secos do mundo, como o Cazaquistão e a
Arábia Saudita, ou já enfrentam escassez de alimentos,
como o Afeganistão e a Etiópia.
Chuva
Ácida
Os
principais ácidos da chuva são o sulfúrico
(H2SO4) e o nítrico (HNO3),
formados pela associação da água com dióxido
de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio
(NOx), produtos da queima de combustível fóssil,
que podem ser carregados pelo vento por distâncias superiores
a 1.000 quilômetros do ponto de emissão, ocasionando
chuvas ácidas distantes da fonte primária de poluição,
o que acaba se tornando um problema sem fronteiras territoriais.
O
dióxido de enxofre e os óxidos de nitrogênio
podem causar danos tanto pela precipitação seca, que
se depõe sobre a vegetação e as estruturas
(monumentos, prédios, etc.), como pela precipitação
úmida, dissolvidos na chuva ou em vapores d'água atmosféricos.
Para a saúde humana os principais danos causados pela ingestão
de água ou alimentos contaminados por metais pesados presentes
na chuva ácida são os problemas neurológicos.
Há, normalmente, fluxos naturais de enxofre e nitrogênio
causados pelas emissões vulcânicas, pela queima de
biomassa e pela iluminação solar. São fluxos
uniformemente espalhados, que não causam grandes precipitações.
O fator significativo aqui também são as ações
humanas porque o fluxo derivado destas é concentrado em poucas
regiões industriais, porém tem a desvantagem adicional
de poder se espalhar e afetar a população de outras
regiões, dependendo do regime dos ventos.
Por dois anos consecutivos (1999-200), pesquisadores norte-americanos,
europeus e indianos do Projeto INDOEX (Indian Ocean Experiment)
constataram a existência de uma mancha marrom de 10 milhões
de quilômetros quadrados de extensão com 3 a 5 Km de
espessura formada por resíduos poluentes - fuligem, sulfatos,
nitratos, partículas orgânicas, cinzas e poeira mineral
- sobre a Índia e o Oceano Índico, obstruindo a passagem
da luz solar e provocando chuva ácida. Para os cientistas,
a mancha resulta da alta concentração de poluentes
emitidos em toda a Ásia e acumulados sobre essa região
em decorrência dos padrões de circulação
climática.
No decorrer da década de 1990, os países asiáticos
lançaram na atmosfera cerca de 34 milhões de toneladas
de dióxido de enxofre ao ano, quase 40% a mais do que os
Estados Unidos, até então o maior responsável
pela emissão desse gás no mundo. Por causa do incremento
da industrialização e da frota de veículos,
além do consumo intenso de carvão como gerador de
energia, esses números devem triplicar até 2010, sobretudo
na China, Índia, Tailândia e Coréia do Sul.
Vazamentos
de Petróleo
No
caso brasileiro, além do lixo, dos esgotos lançados
in natura e de materiais contaminados oriundos das dragagens portuárias,
a ocorrência crescente de vazamentos de petróleo têm
sido um fator crescente de poluição dos ecossistemas
costeiros. Quando o vazamento ocorre em alto mar, existe todo um
processo que pode ocorrer com a mancha provocada, fazendo com que
ela se disperse antes de chegar à costa. Como o óleo
é menos denso do que a água, ele tende a flutuar,
atingindo uma grande superfície. Neste processo, os compostos
mais nocivos evaporam, pois são muito voláteis, e
as partes mais pesadas dos hidrocarbonetos, com o batimento das
ondas se agregam a pequenas partículas em suspensão
no oceano, sedimentando lentamente.
Antes do afundamento da plataforma P-36, em março de 2001,
e do acidente com a plataforma P-7, em abril, a Petrobrás
somava 18 desastres causados desde março de 1975 por vazamento
de óleo e gasolina ou emissão de vapores de soda caústica,
nove deles somente entre 1990 e 2000. Em quatro deles (janeiro,
março, junho e julho de 2000), foram lançados mais
de 5 milhões de litros de petróleo na região
costeira da Baía de Guanabara (RJ), em Araucária (PR)
e em Tramandaí (RS).
Para o ecossistema marinho, o custo desses vazamentos pode representar
o comprometimento no longo prazo da diversidade biológica
e genética, composta por organismos e plantas que formam
a base da cadeia alimentar e são responsáveis pela
dispersão intra e inter-oceânica das espécies.
Uma alteração significativa do ambiente oceânico
poderá agravar a diminuição dos principais
estoques pesqueiros, já considerados sob risco uma vez que
70% deles são superexplorados ou estão em seu limite
biológico de reprodução. Outro sinal visível
da degradação dos ambientes oceânicos é
a descoloração dos recifes de coral.
O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) tem observado, desde 1980,
o aumento do número de formações atingidas
pelo problema. Em 1998, o relatório Planeta Vivo, emitido
pelo WWF, informou 100 episódios de descoloração
de recifes durante a década de 1980, um índice alarmante
comparado aos três registros históricos ocorridos nos
cem anos anteriores. A degradação dos recifes de corais
ameaça uma diversidade de espécies animais que utiliza
as formações como habitat e torna as costas litorâneas
desprotegidas contra a erosão provocada pelos movimentos
oceânicos e o impacto das tempestades sobre a plataforma continental.
A própria extração do petróleo provoca
danos ambientais que ainda não foram devidamente mensurados.
A lama utilizada como lubrificante para evitar o excesso de atrito
do equipamento durante o processo de furo produz um montante ainda
não calculado de rocha moída que é jogada no
mar assim como todos os resíduos que são inerentes
ao processo de extração do petróleo (gás
e água com alta salinidade e concentração de
metais). A bacia marítima de Campos (RJ), considerada pelos
especialistas como uma das maiores fontes de petróleo do
Brasil devido à sua extensão (40 mil km2), fica em
uma região de grande diversidade ecológica e interesse
turístico porque abriga várias lagoas costeiras, manguezais,
praias arenosas e de cascalho, costões rochosos, colônias
de aves marinhas, além de áreas de pescas e bancos
de calcário em profundidades até 120 metros.
Desmatamento
e Desertificação
O desmatamento promovido para obtenção de fontes energéticas
(madeira e carvão) e a transformação de florestas
em terrenos cultiváveis reduziram em 70% o parque florestal
europeu e asiático entre os séculos XIX e início
do século XX. De um total estimado em 62,2 milhões
de quilômetros quadrados, restam somente 33,4 milhões
de florestas. Atualmente, 46% das matas nativas do planeta estão
sob o mesmo risco de destruição pelo desmatamento
que consome, todo ano, 17 milhões de hectares de florestas
tropicais, de acordo com o WWF e o Centro Mundial de Monitoramento
e Conservação (WCMC).
A Organização das Nações Unidas para
a Agricultura e Alimentação (FAO) divulgou que, entre
1980 e 1995, houve um aumento de 4% na cobertura florestal da Europa,
mas as condições da mata são precárias
em virtude de incêndios, secas, pragas e poluição
atmosférica. Nas áreas reflorestadas mais de 25% das
árvores apresentam processos de desfoliação
e número de matas primárias saudáveis reduziu,
no mesmo período, de 69% para 39%.
As queimadas para prática de técnicas agropecuárias
são a principal forma de desmatamento. A expansão
de áreas urbanas, a construção de malhas viárias
e a implantação de projetos hidrelétricos ou
para extração de minérios, além do comércio
de madeira, incluindo o ilegal, que movimenta aproximadamente U$
6 bilhões por ano, também contribuem para a desvastação.
O manejo inadequado da terra e uso excessivo de fertilizantes, somados
ao desmatamento da cobertura vegetal, também são responsáveis
pela desertificação de áreas extensas ao redor
do planeta, particularmente na África, onde mais da metade
do território são de terrenos semi-áridos,
áridos ou desérticos. No Brasil, onde a perda de terras
cultiváveis chega a U$ 4 bilhões ao ano, a desertificação
já compromete 980 mil quilômetros quadrados. Durante
a década de 1990, segundo o WRI, foram perdidos 562 milhões
de hectares de terra férteis, o que representa 38% da área
total plantada no mundo.
As queimadas com fins agrícolas ou comerciais, além
de causarem degradação ambiental, também são
um grande fone de emissão de dióxido de carbono. Ao
longo da década de 1980, as florestas chegaram a ser consideradas
"o pulmão do planeta", em virtude da absorção
de dióxido de carbono e à liberação
de oxigênio realizadas pelas plantas durante o processo de
fotossíntese. A posteriori, algumas pesquisas apontaram que
isso, na realidade, se tratava de um equívoco porque o oxigênio
liberado durante a fotossíntese era absorvido pelas próprias
árvores para realimentar esse processo.
Recentemente, o projeto Experimento de Grande Escala da Biosfera
- Atmosfera na Amazônia, que reúne mais de 300 pesquisadores
da América Latina, Estados Unidos e Europa, comprovou que
existe realmente um balanço positivo na absorção
de carbono pela floresta amazônica, embora menor do que havia
sido divulgado anteriormente (5 a 8 toneladas de carbono por hectare).
As correções realizadas nos cálculos indicam
que, somadas todas as fontes conhecidas de absorção
e emissão, a floresta retira uma quantidade relativamente
modesta de carbono por hectare preservado, algo entre uma e duas
toneladas anuais.
Considerando a sua extensão, que abrange 70% do ecossistema
florestal da América Latina, a floresta ainda seria capaz
de retirar uma quantidade de carbono nada desprezível, estimada
entre 400 e 800 milhões de toneladas por ano, ou o eqüivalente
à aproximadamente 10% das emissões globais devido
à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento.
De todo modo, a destruição das florestas por queimadas
ou desmatamento acarreta um duplo impacto ambiental porque as queimadas
desprendem uma grande quantidade de dióxido de carbono e
os desmatamentos, ao retirar a cobertura vegetal, reduzem a quantidade
de água evaporada do solo e a produzida pela transpiração
das plantas, acarretando uma diminuição no ciclo das
chuvas. Além de provocar os efeitos climáticos diretos,
o calor adicional pode destruir o húmus (nutrientes, microorganismos
e pequenos animais) que promove a fertilidade do solo.
Os efeitos da destruição já são sentidos
inclusive nas áreas urbanas, onde o desmatamento das margem
dos rios aumenta progressivamente o grau de erosão dos terrenos
ribeirinhos, reduzindo a vazão da água e a qualidade
do abastecimento. Em várias cidades, como Piraciba (SP),
as prefeituras têm recorrido ao reflorestamento com espécies
nativas para tentar reverter o processo de degradação
e conter os riscos de desabastecimento.
Fonte:
Almanaque
Abril, 2001
Ar Nefasto,
Isto on Line
Caderno
Mais, Seo +cincia, Quanto mais quente, pior, p. 26-27, 6 de
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pesquisa europia - Folha Cincia, 3 de setembro de 2000, p. A-31
Gerardo
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Ambientales del Sector Energtico en el Mercosur, CEUTA,
Liana
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também:
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