|
José
Fernando Xavier Faraco, engenheiro eletricista, especialista
em Sistemas Digitais, presidente do Sistema FIESC (Federação
das Indústrias de Santa Catarina) e presidente do Conselho
Administrativo da Dígitro Tecnologia Ltda.
Os assuntos são crise energética e programas de
conservação na indústria |
Como
a questão energética está sendo tratada no
Sistema FIESC?
Nós montamos um Fórum, o Fórum Sul de Energia.
O objetivo foi reunir as Federações da Indústria
da região Sul com as Secretarias Estaduais de Energia e todos
os presidentes das companhias que geram, distribuem ou transmitem
energia e são operantes no Sul. Para quê? Para urgenciar
as medidas que visam melhorar as condições de abastecimento.
Então, as medidas práticas: antecipação
da importação de 2.000 MW (megawatts) de energia da
Argentina, que tem um preço competitivo, é energia
de potencial termoelétrico e hidrelétrico; todos os
presidentes das companhias privadas e públicas se comprometeram
a reduzir o tempo para entrada em operação das
novas usinas, nós saímos com a indicação
de buscar um compromisso junto à indústria para acompanhar
o Brasil no tamanho da economia, por auto-decisão. Nós
chamamos tudo isso de racionalização do uso da energia.
Isso foram medidas que o Fórum entendeu que deveria tomar
e serão tomadas em conjunto. Nös vamos andar em conjunto
nos três estados do Sul.
Isso
são medidas de tempos de crise...
Nas questões de longo prazo... nós não estamos
intervindo em questões ligadas a potencial hidrelétrico,
a não ser nas pequenas usinas, como é o caso das PCH
(pequenas centrais hidrelétricas), onde estamos procurando
condições de financiamento junto ao BNDS para estimular
a auto-geração e a co-geração. São
usinas até 50 Mw (megawatts), que dependem de um simples
licenciamento, não é tão complexo quanto uma
grande usina que tem que fazer reservação de água
e tudo mais. Essa é geração com queda d'água,
sem reservatório. Nós estamos trabalhando duro também
na questão da unificação do preço do
gás natural no Brasil e na assunção do risco
cambial por parte da Petrobrás como pagamento do monopólio
que ela detêm. Nós achamos que alguém tem que
assumir e esse papel é dela para que haja estímulo
ao empreendorismo privado. Se não, ele não vai haver
e a termoelétrica é a forma mais rápida de
dar resposta.
E
os programas de eficiência e conservação de
energia?
Isso nós já tínhamos e só demos mais
ênfase. Então, há a criação de
grupos de pesquisa dentro da empresas, visando a minimização
do uso de energia. É como aqueles núcleos de competência
ou núcleos de prevenção de acidentes. Assim,
nós estamos estimulando a formação de núcleos
de funcionários que proponham medidas de alta eficiência
para redução do uso de energia.
E
a questão ambiental? Ela está sendo considerada na
gestão de negócios?
Fortemente. Nosso estado é o maior ganhador de premiações
de ISO Ambiental por desempenho ou gestão ambiental no Brasil.
Santa Catarina é um dos mais premiados. A consciência
está crescendo muito vigorosamente no meio empresarial, principalmente
nos setores com uso intensivo de água. Então, a premissa
é a devolução da água num estado, no
mínimo, igual ao que tomou. Isso tem sido feito pelo manejo
de aterros estabilizadores e, principalmente, pela adoção
de mecanismos de desdobramentos das cargas de efluentes, em nível
industrial, visando redução drástica das emissões
ou liberação de lixo.
O
Sr. comentou que o industrial ainda tem uma certa dificuldade em
aceitar inovações. Quanto isso interfe no processo
de absorção da tecnologia gerada nas universidades?
Isso quase pertence ao passado. Já houve mais reação
à presença ou, digamos, considerar a universidade
em projetos que tinham prazo definido para estar no mercado. Mas
isso mudou. Não só pelo amadurecimento muito grande
da universidade... Eu sempre cito o exemplo: a nossa empresa (Dígitro
Tecnologia Ltda) tinha um desenvolvimento contratado com o LINSE
(Laboratório de Instrumentação Eletrônica
do Departamento de Engenharia Elétrica), da UFSC. Quando
a universidade enfrentou a última greve, a direção
do laboratório ligou dizendo "nós estamos em greve,
mas os prazos não serão alterados". Isso mostra um
grau de amadurecimento muito grande na relação da
universidade com a indústria e eu acho isso fantástico.
Por outro lado, o empresário aprendeu pelo pior caminho,
o mais duro, que foi a exposição que nós tivemos
com essa globalização... com a entrada ingênua
do Brasil na globalização, vamos dizer assim... De
qualquer maneira, o empresário foi exposto muito violentamente
por uma decisão de quem não tinha o direito de fazer
isso, que é o governo, que não tem nenhuma condição
moral para dizer que o empresário é mais dorminhoco
ou menos dorminhoco... Ele (o governo) é que não fornece
uma boa mão-de-obra, ele é que não fornece
condições... O Brasil com todos os impostos que recolhe...
Mas ele acabou abrindo as fronteiras malucamente. Nosso Ciro Gomes,
então ministro da Fazenda, fez isso e nós fomos, da
noite para o dia, expostos à concorrência internacional
e aí o industrial conheceu as léguas de distância
que estava da competitividade e trabalhou duro. Nós pagamos
um preço muito alto, mas as empresas que sobreviveram, vieram
muito competitivas desse processo. Como eu já falei: nós
exportamos aviões, por exemplo. Incomodamos os grandes mercados
no ítem mais tecnológico do mundo, que são
os aviões. Nós podemos fazer qualquer outra coisa.
Informações
relacionadas à entrevista neste site:
Para
navegar:
|