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Maurício
Luiz Sens, engenheiro sanitarista, professor doutor em
engenharia ambiental, com ênfase no tratamento de água,
do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental
da UFSC coordenador do Laboratório Integrado de Meio
Ambiente (Lima).
Os
assuntos principais são poluição hídrica
e métodos de tratamento de água
|
Depois
da energia, a próxima crise vai ser originada pela falta
ou má qualidade da água?
Todo mundo fala isso. Acabei de chegar de viagem, estive com os
maiores especialistas do Brasil que estavam discutindo justamente
sobre o tratamento de água… Tivemos dois dias de reunião
dessa rede de pesquisa, a nível nacional. Eles falam também
da crise da água. Eu tenho uma visão diferente. Eu
acho que nós só teremos crise de água se realmente
não houver investimento, como foi o caso da eletricidade,
mas se dominar as técnicas… acho muito difícil
faltar água.
Inclusive
no Nordeste?
Inclusive no Nordeste, porque no Nordeste tem água salgada,
tem água salobra. Mesmo no sertão nordestino, se faz
um poço e se encontra água salobra. E tem técnica
prá tratar isso, tanto que já estão colocando
isso. Só que a falta de um pouco de preparo, digamos…
é coisa de principiante, estão iniciando e estão
tendo alguns problemas, mas é possível resolver. Nós
temos água do mar em grande quantidade. Dá prá
tratar. Por exemplo, aqui, em Florianópolis. Hoje nós
estamos trazendo água de 35 quilômetros de distância…Tem
uma boa parte de manancial subterrâneo na ilha, que pode ser
consumida e antes nem se falava… Então, se pensava que,
em 2005, começaria a buscar água em Tijucas, no rio
Tijucas, que dá uns 60 e poucos quilômetros… (…)
Mesmo assim, as técnicas de desalinização se
modernizaram e baratearam bastante, através de osmose inversa.
Como
é esse procedimento de osmose inversa?
É uma membrana, de um lado se concentra o sal e do outro,
sai uma água pura. Extremamente pura. Prá nós,
brasileiros, ainda está caro. Na Europa e nos Estados Unidos
também ainda continua sendo caro, mas cada vez está
mais barato…
O
que é caro?
Os materiais. A construção é mais simples.
Nessa técnica não tem quase construção
de concreto, coisas assim… É uma casinha comum, a gente
coloca esses equipamentos e fica tratando da água. Mesmo
assim, como nós não dominamos a tecnologia, isso tudo
é importado… Quer dizer, algumas pessoas, mesmo eu que
já trabalho um pouco com osmose inversa, dominam a tecnologia,
mas não temos ainda o material. Hoje, nós somos dependentes
da membrana, que tem um tempo de vida. Então, a minha visão
é a seguinte: se não tiver investimentos, vai ter
crise de água. Como o caso da eletricidade… o brasileiro
tinha completo domínio da situação elétrica
do País, sabia que isso ia estourar faz tempo… Eu vinha
escutando isso desde 15 anos atrás… Só que não
houve vontade política, não houve investimento como
deveria, o que aconteceu? Privatização… só
pensam em privatização, privatização…
e não se investe mais nada porque tem que privatizar e chegou
aí… Com a água também tá acontecendo
isso… Querem privatizar as companhias de saneamento, a Casan
… O que tá acontecendo? As companhias estão lutando
prá não acontecer, por outro lado, o governo também
não sabe como fazer direito… Daqui a pouco, então,
poderá haver a crise de água em todo o País
porque não tem investimento… Agora, técnica,
conhecimento, nós temos, tanto que podemos usar água
salgada, água salobra e águas superficiais. Nós
podemos, teoricamente, tratar até água de uma fossa
séptica. É mais caro e mais difícil, mas dá
prá deixar tão potável quanto as outras.
Quanto
custam essas membranas?
Eu não tenho o valor por metro cúbico… tem que
saber pela produção de água. Isso depende do
porte dessas instalações, mas essa técnica
costuma ser bastante cara. Veja, há cinco anos, eu estive
na França e estavam montando lá um laboratório
com 200 pesquisadores com um objetivo: desenvolver membranas de
ultra-filtração, nano-filtração e de
osmose para tornar essas técnicas, em dez anos, mais baratas
do que o tratamento convencional. Hoje, nós temos uma estação
convencional com processo de coagulação, decantação,
filtração e desinfecção… Com essa
técnica de membranas, tudo isso é eliminado. Mesmo
a desinfecção não será necessária.
Só um residual para a rede, caso haja uma contaminação
depois porque nessas membranas não passa nem vírus
nem bactéria.
Quer
dizer que não há necessidade de cloro também?
Como desinfecção na estação, não.
A gente vai continuar colocando cloro por conta de uma possível
contaminação depois, mas a água que passa pela
membrana já sai desinfectada. Quer dizer, se aplica na saída
da estação uma certa quantidade de cloro na água
potável para que, na rede, se houver uma infiltração…
Mas o que se chama de desinfecção na estação,
matar os vírus que tem ali, não será mais necessário.
Então, esses pesquisadores franceses tinham o objetivo, há
cinco anos, de tornar essa técnica mais barata. Prá
isso montaram o laboratório com 200 pesquisadores. Quer dizer,
agora só faltam cinco anos prá atingir esse objetivo.
Digamos, daqui a cinco anos, talvez eles consigam prá eles,
mas nós, brasileiros, ainda vamos ter um tempo mais…
porque nós vamos ser dependentes dessa tecnologia.
Porquê
essa membrana é tão cara?
Tem o preço da membrana, ela é de celulose, mas é
a tecnologia prá fabricar que torna caro. São poucos
no mundo que fabricam essa membrana de osmose. Depois tem a membrana
das técnicas de ultra-filtração e nano-filtração,
que, hoje, já se aplicam para outros tipos de efluentes,
não para água potável, porque é muito
cara. Tem estações de emergência, onde se aplicam
essas técnicas. Os árabes já têm essa
desalinização por osmose inversa. Companhias francesas
montaram estações lá, tudo é tratado
com essa tecnologia. Dentro da França também tem.
Às vezes, por osmose, outras por ultra-filtração
e nano-filtração. (…) Então, porquê
é tão caro? Além da membrana, essa técnica
precisa de alta pressão. Precisa de conexões e tubulações
que agüentem alta pressão, sistema de bombeamento que
dê essa alta pressão, válvulas… esse conjunto
todo começa a encarecer também porque não tem
tanto fabricante quanto esses de peças comuns. E, prá
nós, vai ser ainda mais caro porque nós vamos comprar
de fora. A partir do momento que esses fabricantes se instalem no
Brasil ou as empresas nacionais entrem em conjunto com outras e
comecem a fabricar partes ou toda essa tecnologia, isso se tornará
mais barato também. Eu acredito nisso, mas precisa de investimento.
Se realmente a nossa política nacional continuar como está…
Isso sem sombra dúvida, estou falando e nem sou um dos maiores
especialistas nacionais, mas, sem sombra de dúvida, vamos
começar a ter problemas e vai começar a faltar água…
e isso vai ser muito mais rápido do que imaginamos. Porque
não tem investimento.
E
o Brasil é privilegiado em termos de recursos hídricos.
Nós temos a maior reserva de água doce do planeta…
Nós somos ricos em águas subterrâneas, mas tudo
tem seu preço. Aqui, dentro da universidade, nós fizemos
três furos, de cento e vinte metros. Conseguimos água,
mas não na quantidade que se pretendia. A água também
tinha muita concentração de ferro. Quando se pesquisa
água subterrânea, de qualquer maneira, também
tem um preço porque a gente erra. Ninguém enxerga
exatamente o que tem lá embaixo. Então, uma parte
desses furos é perdida. Às vezes, a água não
é de boa qualidade, mas mesmo assim a gente tem técnica
prá tratar essa água subterrânea. Por exemplo,
nós fizemos uma estação de tratamento de água
para o Campus universitário. Temos o projeto executivo prontinho
prá tratar a água subterrânea e sermos auto-suficiente
em água no Campus. Se quisermos. Nós temos condições,
se associando com a Eletrosul, que nós forneceu um outro
curso que tinha boa vazão. Porém, todos esses poços
tem muito ferro. Hoje em dia, até é fácil tratar
isso. Então, basta executar e poderemos ter água à
vontade. Digamos, aqui na ilha, nós vamos furar e encontrar
água que não é boa, então tem que furar
mais adiante… Então, nós somos ricos em água
subterrânea, mas tem que ter investimento. Não é
de graça. A água subterrânea tem a vantagem
de que podemos, às vezes, fazer poços mais perto da
cidade, mais perto do consumidor. No nosso Estado, nós temos
água, rio em todos os lugares. Só que, hoje, todas
as águas subterrâneas estão poluídas.
No oeste do Estado, nós temos problemas com a produção
de suínos. Tem nitratos e nitritos na água. Aqui,
em volta de Florianópolis, vai começar a faltar água
mesmo. Água superficial. Mas, com a água subterrânea,
que hoje a gente sabe que tem, dá prá ir bem longe,
mas vamos ter que tratar do mesmo jeito.
Os
dados de organizações ambientais registram que 80%
das doenças e 65% das internações hospitalares
no País são causadas pela má qualidade da água.
Isso é correto?
Os dados não são bem esses. Normalmente, até
85% das doenças no nosso País são causadas
pela água de má qualidade. A nível mundial,
65% das doenças vem pela água. É a média
mundial. Dos internações hospitalares, é 25%.
No mundo. Por causa de doenças de origem ou transmissão
hídrica. É um percentual exorbitante. E onde é
que o governo deveria aplicar recursos? Qual é o nosso maior
problema? O primeiro, que eu acho, é a saúde. Se 85%
das nossas doenças vem pela água… onde é
que tem que atacar? Tratando da água, você resolve
dois problemas. Agora, por causa disso que tem que privatizar, tem
que privatizar… Até países europeus que adotaram
isso há um tempo, estão voltando atrás. A Argentina
teve que recomprar um sistema, pagando dez vezes mais. E nós
estamos engatinhando prá isso e, com isso, não se
investe mais. Todo investimento está trancado porque a política
é forçar para fazer a privatização.
Então, não vem dinheiro do governo federal nem do
Banco Mundial e as companhias não conseguem ter caixa prá
fazer novas estações de água, rede de esgotos.
Só se está fazendo coisa do passado. Essa nossa rede
de esgoto é de contrato antigo.
A
água, como a energia, é um insumo fundamental.
Mais fundamental que a energia…
Então…
como se pode subordinar isso à perspectiva de lucro?
Exato. Eu também penso assim. Veja, eu não sou uma
pessoa de companhia. Eu estou dentro da universidade, meu trabalho
é outro, posso continuar fazendo pesquisa em água
ou, de repente, até ser mais agraciado com uma companhia
dessas que venha, seja nacional ou de fora. Digamos, posso ter até
mais trabalho de consultoria… Mas eu não defendo a privatização.
Eu acho que eles estão indo para o lugar errado porque não
tem como ter concorrência na água. Como é que
você vai colocar dois ou três tubos distribuindo água
na cidade? Não é como a TV a cabo, que conseguiu uma
certa concorrência. Então, na água vai ser um
monopólio. Ou privado ou estatal. Como é que nós
vamos entregar a água pro monopólio privado? Evidentemente,
que vai custar mais caro. Já o que não era prá
custar mais caro, o telefone, tá bem mais caro… A água
é um monopólio mesmo, não tem saída.
O que vai acontecer? Florianópolis vai ser da empresa X,
Joinville vai ser da companhia Y… isso dá prá
fazer. Mas lá em Joinville ou aqui, em Florianópolis,
vai ser uma só companhia que vai tratar a água ou
o esgoto. Ah, dizem: vai ter um controle do governo… Quem é
que vai confiar nisso num País desse com tanta corrupção?
Não vai ter controle, quem vai realmente "entrar pelos
canos" é o povo. Vai pagar mais caro. Na Argentina,
estão pagando bem mais caro. E o pior: eles só colocam
água ou rede de esgoto onde vai dar lucro. Eles não
tem a parte social. Hoje, o que acontece com uma companhia do Estado?
Aqui dá lucro, outro lugar não tá dando lucro…
Ela se compensa e vai fazendo a expansão. O "privado"
não quer saber. Aquele cara do morro, que tá meio
isolado, não vai ganhar água. Isso é o que
tá acontecendo na Argentina, apesar de eles quererem mostrar
que não. De cara, eles começaram a fazer isso. Não
tem investimento, eles querem primeiro o lucro. Agora me deram a
informação que o sistema da cidade de Córdoba
teve que ser recomprado porque deu a maior confusão com a
população. Eles tinham vendido por 40 milhões
de dólares, tiveram que recomprar por 400 milhões.
Então, na minha visão, a privatização,
pelo menos do jeito que está se tocando, é catástrofe.
Além do mais, está sendo feito tudo prá não
ficar com companhias nacionais. Eles não estão privatizando
um sistema. Quando se fala em privatizar a Casan, se fala em privatizar
a companhia em todo o Estado, que tem 219 municípios e 300
e poucos sistemas de tratamento de água. Então, começa
a se acertar somente o "filé mignon". Eles começam
a privatizar o filé como foi em outras coisas, onde dá
lucro: Florianópolis, Joinville…
Quanto
do território catarinense é atendido pelo tratamento
de água e esgoto?
Nós temos 90 a 95% de rede de água, no meio urbano
do Estado. Meio urbano. Esgoto é 7 ou 8%. Com isso, você
pode fazer uma subtração. Praticamente toda a água
distribuída volta ao ambiente como esgoto. O que se distribui
de água deveria retornar por um tubo prá rede de esgotos,
prá tratar, mas retorna para o manancial, para um corpo d'água.
Polui. É despejada no ambiente. Então, se dos 95%
distribuídos só 7% são tratados… Oitenta
e poucos por cento da água é poluída.
Nas
grandes cidades, o índice de perdas é de quase 50%.
Ou, seja, quase metade dessa água tratada é perdida
por problemas de infra-estrutura ou falha na manutenção…
Esses dados são corretos. Em nível nacional, tem lugares
com mais que isso. Tem outros com menos. Prá você ver:
o nosso Estado é um lugar onde o nível de vida é
bom comparado com outras regiões do País, mas nós
perdemos 49,5%. Não é só perda de água.
Perda de faturamento também. Coisas que, às vezes,
não precisariam ser computadas. Tem caso de favelas, onde
é distribuída a água e só é cobrada
a taxa mínima, não hidrômetro, um equipamento
que mede o consumo de água. Então, se não tem
o equipamento, a pessoa desperdiça, consome à vontade,
não conserta uma torneira estragada… Então, isso
é perda de faturamento. Numa nova construção,
a Casan não coloca imediatamente um hidrômetro, começa
a cobrar só a taxa mínima… Tudo somado, incluindo
até órgãos do próprio governo que não
pagam, dá 49,5% de perdas.
Quais
são os grandes poluentes da água e quem produz?
Hoje, no nosso Estado, em todo o oeste catarinense, é a criação
de suínos. Eu não tenho dados exatos, mas, se não
me engano, a população de suínos é maior
do que de pessoas. E o suíno gera uma poluição,
eu tô chutando…Acho que o grau de poluição
produzido pelo suíno corresponde ao de três a cinco
pessoas. Então, dá prá se ter idéia
do grau de poluição causado pelo suínos. Parte
disso tem o devido tratamento dos dejetos, mas outra parte não
tem.
E
as outras indústrias?
Ali, na região norte, Blumenau, Joinville, o maior problema
é o têxtil. No sul, nós temos o carvão
como principal poluidor. Depende das características econômicas
da região. Porque todo mundo usa água. Veja, a indústria
têxtil: prá produzir mil quilos de tecido, se usa um
milhão de litros de água. E essas águas saem
coloridas, conforme a cor do tecido do dia. No nosso Estado, de
qualquer maneira, existe tratamento dessa água na maioria
dessas indústrias. O que falta um pouco é fiscalização
prá controlar o sistema. Às vezes, de madrugada, isso
fica desligado…
As
indústrias estão reusando água? Qual é
a capacidade de reutilização da água?
Eu tive procura pelas próprias companhias de água
prá fazer reuso porque a própria estação
de tratamento de água também é uma poluidora,
por incrível que pareça. O que acontece com a maioria
das estações, 99% delas, no Brasil… nós
pegamos a água de um rio, tiramos toda a sujeira que vem
com essa água, acrescentamos alguma coisa e devolvemos pro
rio. Então, agora isso mudou, a legislação.
Qualquer mudança que se faz numa estação de
água tem que se adequar prá tratar esses efluentes.
Por exemplo, um filtro. Quando se lava um filtro, o lodo é
jogado fora. Agora, não. Então, as próprias
companhias têm nos procurado prá fazer estudos para
poder reciclar essa água que se perde da lavagem de um filtro,
de um decantador, prá retornar ao sistema. Hoje, a gente
tá fazendo isso sem perda nenhuma de água. Só
sai os sólidos, tudo retorna ao sistema. Na maioria, isso
não está implantado, mas têm estudos prá
isso. Eu fui procurado há muitos anos, doze anos atrás,
pela indústria da Pepsi Cola prá fazer um estudo para
reciclar a água da lavagem dos vasilhames.
Nas
residências ou em condomínios é possível
reutilizar a água? O Sr. tem um colega que fala que usar
a água tratada para lavar calçada ou dar descarga
em banheiros é um desperdício porque essa água
é muito nobre.
Muito se pensou nisso, mas não é bem assim. Fica complicado
fazer mais de uma rede dentro de uma cidade, dentro de uma residência
ou prédio. Depois, tem a higiene, essas coisas… Nos
vasos sanitários, se poderia, de fato, jogar uma outra água,
mas nós temos que armazenar ou, então, tinha a idéia
de ter só a água potável e separar na utilização.
Por exemplo, a água de chuveiro… o cara toma uma ducha
e essa água é separada. Mas o condomínio teria
que ter cisterna prá isso, condicionar essa água prá
reciclar prá todo prédio, utilizar essa água
nos vasos… Não é algo prático. Essas idéias,
às vezes, são boas, mas não é fácil
fazer. É como a idéia de recuperar o gás produzido
pelo lixo. Já se fez, até aqui no Estado já
tivemos locais piloto, onde uma indústria recuperava o gás
da putrefação do lixo e utilizava, mas não
é fácil. Não dá prá colocar o
lixo tão perto, ele tá longe, nós não
temos uma boa técnica de pressurização prá
engarrafar o gás… então, a indústria tava
ali do lado de um lixão desse, canalizava, mas eram uns trambolhões
de tubulação por cima… Era medonho, não
tinha uma estética… As idéias são boas,
mas ainda não é fácil implementar. Então,
creio que ainda não é algo assim tão interessante.
E
esse projeto executivo que o Sr. fez de uma estação
própria de tratamento da água no Campus?
Na verdade, isso foi feito há alguns anos, em outra gestão,
com outro reitor. Depois, não foi abraçado por esta.
Mas eu também não procurei mais o pessoal prá
conversar. (…) A nossa idéia era manter só 10%
da água da Casan. Seria uma estação-escola
operada por estudantes. Como nós temos que formar alunos
que saibam tratar a água, então nós já
iríamos operar com estudantes. Nós iríamos
coletar a água de três, ou melhor, de dois poços.
A gente iria abandonar um porque não ficou próximo.
Eram dois poços da universidade e mais um poço da
Eletrosul, que nos cedeu, já temos os documentos. Essa quantidade
de água que se tem é boa, embora tenha que tratar
porque tem muito ferro… Mas nós projetamos também
uma estação prá remover o ferro, que ficaria
ao lado da piscina. Ao mesmo tempo, a mesma equipe poderia tratar
a água da piscina e manter essa estação para
água potável, que ficaria numa área não
muito nobre da universidade porque fica do lado da piscina, entre
a Eletrosul e aquele canal próximo da piscina. Lá
em cima do Morro (da Cruz) tem dois reservatórios. Um, hoje,
é da universidade. Então, nós lançaríamos
toda a água direto naquele reservatório prá
vir pro Campus, mas manteríamos uma ligação
de água, estrategicamente, prá não se desvincular
da Casan. Não é interessante, caso tenhamos algum
problema…
O
Sr. falou que isso seria traria economia para a universidade. O
Sr. tem idéia de quanto a universidade gasta com água?
Hoje, não tenho mais. Na época em que a gente fez
esse estudo, esse projeto de tratamento, a universidade pagava…
Bom, primeiro, a gente fez um trabalho para controle de perdas e
desperdício de água. A gente reduziu sensivelmente,
uns 30% do consumo de água. A universidade pagava 42 mil
dólares de água e passou a pagar U$ 26 mil. Mas, hoje,
o consumo cresceu. Tem mais prédios sendo construídos,
mais equipamentos, tudo usa água… A tendência
é subir se a gente não faz esse controle para baixar
o consumo ou, pelo menos, estabilizar. Eu creio que a universidade
deva estar pagando em torno de 60 mil dólares. Já
ouvi falar em 65 mil dólares, já baixei cinco porque
achei um pouco demais. Também tem essa diferença de
câmbio, o dólar tava mais próximo do real, agora
não tá mais e os preços da água não
sobem em dólar. Mas mesmo se pensar em uns 30 mil dólares,
já é um bom dinheiro, multiplicado por 2.5, dá
75 mil reais por mês…
A
idéia do projeto era utilizar só 10% de água
da Casan…
É, embora o projeto possa eliminar por completo esse vínculo,
mas eu não acho interessante. Estrategicamente, a gente manteria
um vínculo com a Casan. Se, eventualmente, as coisas não
andassem direito, a gente teria água da Casan.
O
Sr. falou que a água subterrânea aqui do Campus têm
muito ferro. Quais são os metais pesados que podem estar
presentes na água e de onde eles vêm?
Os metais pesados estão mais na zona industrial, eles vêm
do despejo industrial. Tem vários, conforme a região.
Esse ferro que nós falamos aqui, apesar de ser um metal,
ele não é prejudicial à saúde. Porque
nós temos que tratar? Porque a água fica amarela,
ela tinge os vasos sanitários, mancha as louças…
Também é a questão do visual, ninguém
gosta de beber uma água amarelada. No nosso caso aqui, a
água tinha um teor muito forte. Ela sai do poço cristalina,
mas em questão de vinte minutos, meia hora, ela se torna
alaranjada porque começa a oxidar o ferro que antes, sem
a presença do oxigênio, não estava oxidado,
ele estava dissolvido e completamente transparente. Depois, em contato
com o ar, ele oxida e torna-se amarelo. Mas prá saúde
não tem nenhuma contra-indicação. Também
tem os problemas de incrustração nas tubulações.
Com o tempo, começa a incrustrar e fechar um pouco as tubulações,
as vazões diminuem. Isso causa um sério problema.
Também pode criar bactérias ferruginosas que atacam
certos metais, etc. Às vezes, pode mudar o gosto de certos
alimentos, o café não sai com o mesmo gosto, etc.
Mas nada contra-indicado prá saúde.
O
que é, realmente, essencial para garantir a sustentabilidade
dos recursos hídricos?
Tratar a poluição. O que a gente quer com a sustentabilidade
é manter o recurso. Então, se a gente tiver esses
mananciais tratados, nós vamos poder reutilizar mais vezes
a água, com facilidade. Cada vez mais o tratamento se torna
sofisticado, mas nós não estamos fazendo a sofisticação
que deveria. Esse é um grande problema. As nossas águas
estão ficando piores porque nós continuamos fazendo
um tratamento convencional. Só que os despejos não
são mais os convencionais. Então, se a água
tem metais pesados, pelo tratamento convencional, sai muito pouco.
Pesticidas, agrotóxicos… Não falei ainda de agrotóxicos.
Esse é outro grande poluidor no nosso Estado. Nós
não estamos preparados para tratar a água com agrotóxico.
Então, esse sistema não elimina. Eu já fiz
testes, só elimina 2% do agrotóxico. A gente sabe
como tratar, tem como fazer isso nas estações, mas
nós não temos isso nos sistemas.
E
o caso de pilhas e baterias que são jogadas em lixões
e contaminam o lençol freático?
Tudo isso contamina, se não fizer um aterro sanitário.
Primeiro, nós temos que ter aterros sanitários no
Estado, já não temos. Depois, aterro industrial. Só
temos um, parece que vamos ter dois… De qualquer forma, quase
não temos aterro sanitário industrial. Então,
na verdade, essa pilha tem que ser recuperada, mandada de volta
pro fabricante. Mas nós temos outros problemas… Por
exemplo, essas empresas quando tratam o seu despejo, sobra um lodo
que é rico em metais pesados e tem que ir para um aterro
sanitário industrial. Mas nós temos poucos aterros
sanitários e aterro sanitário não é
o que todo mundo pensa, que é um lixão ou, às
vezes, um aterro controlado. Tem que ter toda uma base antes construída
para que quando tenha a putrefação, aquele líqüido,
o chorume, vá também para uma estação
de tratamento de efluentes. Um aterro sanitário tem até
uma estação de tratamento do efluente dela se não
ele será um poluidor e fortemente, com metais pesados. Sem
ser um aterro industrial, um aterro sanitário comum…
Porque tudo que nós temos, isso aqui (um folheto colorido)
tem metal…metal pesado. É papel, mas sobra metais na
putrefação…Isso tem que ter um tratamento.
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