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Nito
Ângelo Debacher, químico, doutor em Físico-Química,
professor do Departamento de Química e diretor da Coordenadoria
de Gestão Ambiental (UFSC)
O
assunto é Gestão Ambiental na UFSC
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Desde
quando existe a Coordenadoria de Gestão Ambiental na UFSC?
A Coordenadoria foi criada em 1996, durante a primeira gestão
do Prof. Rodolfo Pinto da Luz. O objetivo é gerenciar a gestão
ambiental dentro da universidade. Os objetivos específicos
são cuidar de todo o Campus, ou seja, dos resíduos
sólidos, que tem uma política organizada dentro desse
trabalho, dos resíduos líquidos com a questão
dos efluentes, da arborização e jardinagem do Campus
e, com relação também a resíduos potencialmente
perigosos que seria, no caso, lâmpadas, pilhas, baterias e
o resíduo hospitalar.
Além
da Coordenadoria também existe o PIMA - Programa Institucional
de Meio Ambiente.
O PIMA foi criado para trabalhar com todo o programa de meio ambiente
da universidade, mas ele é não relacionado ao Campus.
Ele está relacionado a toda pesquisa realizada dentro da
universidade que tem relação com o meio ambiente.
Então, o PIMA tem que trabalhar com os projetos que tem a
ver com o meio ambiente, mas não necessariamente com o Campus.
Mas
há um parte de trabalho que é realizado em conjunto.
Em colaboração, sim, a partir do momento que você
tem projetos com relação ao Campus. Se tem algum professor
com projeto que tem a ver com o Campus, a Coordenadoria engloba
esse projeto dentro do gerenciamento da universidade como um todo
e usa aquele professor para um trabalho. Naturalmente, com isso
a Universidade já tem a ganhar, uma vez que tem um trabalho
já iniciado que é o caso, por exemplo, do projeto
de compostagem. Ele é um projeto anterior à criação
da Gestão ambiental, de um professor que fazia um trabalho
de pesquisa e pegava material dentro dos bares e restaurantes da
Universidade, com alguns alunos de graduação do Centro
de Ciências Agrárias, e fazia a compostagem. Esse projeto
evoluiu a um ponto que a Gestão Ambiental englobou dentro
do gerenciamento da Universidade porque funcionava muito bem e nós
ampliamos e transformamos num projeto da Universidade. Agora, ele
tem que dar conta de todo o resíduo de alimentos do Campus.
A
Coordenadoria consegue absorver todo o desenvolvimento gerado na
Universidade?
Consegue, consegue, desde que o professor nos disponibilize e queira
fazer parte desse programa, porque, às vezes, o professor
não tem interesse que a universidade assuma isso. Ou, às
vezes, é um projeto meio mirabolante que não dá
para encaixar dentro do programa. Na maioria dos casos, só
vem a somar. Desde que haja uma possibilidade de fazer um caminho
de duas mãos, onde você também se envolva. é
ajuda mútua. Tem vários projetos andando na Universidade
com essa finalidade e que funcionam muito bem que, inicialmente,
foram projetos individuais de um professor com seus alunos.
Quais
são os principais projetos ambientais da Coordenadoria dentro
da UFSC?
Os projetos que estão em andamento são vários.
Um deles é dos resíduos sólidos e dentro desses,
tem redução, reciclagem e reuso, envolve todo o resíduo
sólido dentro do Campus: papel, metal e vidro. Tem o material
que pode ser reciclado e outros que não dá para reciclar.
Material que sai dos banheiros não pode ser reciclado, então
ele tem que ser encaminhado para um aterro sanitário. O material
que pode ser reciclado é coletado pela empresa Promenor,
que tem um convênio com a Universidade. Ela vem, empacota
o material e o caminhão leva para o centro de triagem e encaminha
para as empresas que fazem reciclagem: papel, plástico, etc.
Aí, dentro do Campus, tem várias pessoas que fazem
esse trabalho de forma individual que nós estamos tentando
englobar dentro do projeto.
Quanto
de lixo se produz no Campus?
São dois caminhões por semana, no período normal
de aula. Lixo reciclável, que pode ser reusado, lixo bom.
Isso dá um volume de 2.000 quilos por caminhão. Fora
o trabalho das pessoas que fazem a coleta individual. Tem funcionários
que ainda fazem coleta individual de papel, guardam num cantinho,
o chefe de Departamento aceita que a pessoa coloque lá, mas
isso dentro da qualidade total que nós estamos buscando,
você não pode fazer. Colocar em qualquer lugar, isso
não funciona assim. Nós temos que passar para uma
etapa de conscientização das pessoas que esse material
tem que ser coletado de uma forma correta, que não dá
para colocar embaixo de uma escada, dentro de um banheiro, etc e
tal. A parte dos banheiros, que é um material contaminado,
esse material ele vai diminuir bastante a partir do momento que
a CASAN termine a rede de esgoto. Até novembro, que é
a previsão para terminar, religando o sistema, toda a Universidade
vai estar ligada na coleta de efluentes e o papel higiênico
usado vai embora junto, não precisa mais coletar. Feito isso,
vai diminuir o volume desses resíduos e o potencial de contaminação
de pessoas por causa desse problema de ficar transitando e transportando
esse material.
E
os outros resíduos sólidos?
Bom, dentro do lixo sólido, nós temos também
as pilhas, as baterias e o lixo hospitalar. Pilhas e baterias: nós
temos a legislação municipal que, agora, foi refeita
em 2.000 e acabou criando um problema porque a legislação
estadual já previa que todas as empresas que produzem e vendem
pilhas e baterias são obrigadas a receber esse material de
volta. Isso já existe esse tipo de organização
na cidade. As grandes empresas já aceitam esse material de
volta. Os pequenos comércios ainda não estão
aceitando isso muito bem. Agora, a prefeitura municipal mudou a
legislação interna do município em setembro
do ano passado e criou alguns empecilhos, digamos, porque essa legislação
prevê que quem coleta esse material é a própria
prefeitura que deve acondicionar esse material num local que não
pode ser dentro do município de Florianópolis. Isso
é ridículo porque o lixo é nosso, portanto
o problema é nosso também. Não se pode querer
que um município vizinho receba um lixo que é produzido
pela cidade de Florianópolis. Por outro lado, pela legislação
estadual, nós temos como trabalhar com esse material e devolver
as pilhas para as empresas que produzem. As lâmpadas fluorescentes
é o mesmo problema. Nós temos que encaminhar para
quem consegue fazer a descontaminação e o tratamento
de reciclagem. Na primeira etapa, nós treinamos os nossos
técnicos em eletricidade, que fazem a troca das lâmpadas,
e esse material está sendo coletado. Nós já
enviamos para descontaminação cerca de 7.000 lâmpadas,
que foram enviadas no ano passado. Fizemos concorrência pública
e a empresa que venceu foi de Santa Catarina, a Recicla Brasil,
ela levou e nos devolveu um certificado de descontaminação.
Só que a descontaminação custa dez centavos
por lâmpada. No entanto, como a legislação estadual
prevê, as empresas que produzem esse material são responsáveis
por receber e levar esse material. Então, o nosso orçamento
de compra, a partir do novos editais, inclui que quem vencer o edital,
vai ter que receber de volta, num período de dois anos, o
mesmo volume de lâmpadas que foi vendido. Isso vai ser agregado
aos contratos com fornecedores. Bem como os restaurantes e bares
da Universidade, nos contratos de licitação, são
obrigados a gerenciar os resíduos sólidos de acordo
com o gerenciamento da universidade. Então, eles tem que
comprar os containers adequados e guardar esse material para ser
enviado para reciclagem, quando é material de reciclagem,
ou então para compostagem, quando é resto de comida.
Quem não fizer da forma correta, nós já temos
um instrumento legal de cobrança. Alguns bares ainda não
tem isso porque ainda estão no edital antigo.
E
o lixo hospitalar?
Todo lixo hospitalar e de laboratórios de pesquisa que envolvam
animais. toda pesquisa que usa animais, acaba com carcaças
e com materiais contaminados biologicamente. Todo esse material
tem que ser acondicionado em containers adequados, é obrigado
a ser esterilizado e encaminhado para empresas que fazem essa coleta.
Uma
parte do lixo aproveitável poderia ser utilizado por biodigestores
que estão em funcionamento dentro da própria UFSC?
O lixo orgânico, por exemplo, restos de comida, está
todo sendo usado pela Universidade. É feita a compostagem,
gera o composto que é usado como adubo e é vendido
para quem quiser comprar.
Mas
tem um problema aí que é a divulgação
dessas informações.
Então, qual é o nosso problema agora? Por isso, o
evento que fizemos (Semana do Meio Ambiente). O objetivo era chamar
a comunidade universitária para que ela passe a fazer parte
desse trabalho formiga, digamos, para distribuir para todo mundo.
O material que estamos fazendo tende a esse tipo de organização.
Então, o que pretendemos fazer? Vamos fazer um vídeo,
todos os calouros que entram vão assistir a uns 15 minutos
de vídeo para saber o que está acontecendo no Campus.
Os alunos de iniciação científica estão
recebendo treinamento antes de ir para os laboratórios sobre
segurança, a parte de ética, quem trabalha com animais,
etc. Então, o lixo sólido. foi feito um convênio
com a Promenor porque nós precisamos de alguém que
trabalhe a nível de Universidade como um todo, que leve o
lixo que é bom e o que não é tão bom.
Para a Universidade segregar esse material e vender, nós
teríamos que ter uma microempresa para esse trabalho. Como
todo sistema federal está sendo terceirizado, para a Universidade
assumir isso é impossível. Você não pode
assumir isso com alunos. Porque aluno não pode ser usado
como mão-de-obra de um trabalho que vai ser rotineiro. Ele
tem que ser usado como pesquisador. Quando se está trabalhando
num trabalho específico que é de pesquisa, faz sentido
ter alunos envolvidos. Quando se passa para um sistema rotineiro,
não faz sentido.
Mas
usar esses alunos, como voluntários, em programas de multiplicação
de informação?
Nisso que estamos trabalhando. Tanto que estamos com 12 bolsistas
aqui, nesse semestre, na Gestão Ambiental. Esse trabalho
também é chamar o pessoal que queira se engajar, como
voluntário. A Gestão Ambiental não tem recursos
próprios. A Gestão Ambiental foi criada para gerenciar,
não para executar. A matriz de distribuição
de recursos dentro da Universidade só prevê distribuição
de recursos com unidades universitárias, ou seja, centros
e unidados tipos BU, PU, HU, etc. Então, quando o dinheiro
vem, esses recursos são jogados dentro da matriz, isso já
existe dentro do planejamento da SEPLAN, e ela verifica o que cada
unidade tem e faz os cálculos para jogar quanto dinheiro
vai para cada um. Então, quem é que vai ter dinheiro
para comprar e trabalhar com isso? São os centros, as unidades.
É claro que os diretores de Centro já tem interesse
em instalar, por exemplo, lixeiras como aquelas de quatro cores
(seletivas). Eles já vieram procurar aqui. Nós estamos
com esse processo esquematizado, agora estamos fazendo a normatização
desse material. Todos os centros vão ter que assumir o mesmo
tipo de norma e eles vão implantar isso de acordo com os
seus recursos. Foi feito com os resíduos hospitalares e,
agora, com os resíduos químicos também. Todos
os laboratórios que produzem resíduos químicos
foram cadastrados, todos os coordenadores foram cadastrados, o tipo
de resíduo que o laboratório gera, etc, e a Coordenadoria
de Gestão Ambiental entrega o material necessário
para guardar esse resíduo, recolhe esse material, faz a triagem
e entrega para a empresa que leva esse material.
Então,
a Coordenadoria não tem orçamento? Alguns pesquisadores
reclamam que não tem recursos para implantar algumas coisas.
A Gestão Ambiental não tem orçamento nenhum.
É um órgão de gerenciamento, não é
um orgão executivo. Nós estamos ligados diretamente
ao Gabinete do Reitor, o material de expediente pega de lá,
papel, etc. Mas nós não temos dinheiro nenhum. O que
nós estamos fazendo é submeter alguns projetos à
Fundação Nacional do Meio Ambiente, onde a gente possa
ter algum projeto aprovado. Aí, sim, nós teríamos
recursos. Por exemplo, dentro dos editais dessa Fundação,
tem o edital de resíduos sólidos, e nós estamos
trabalhando nisso. Se ele for aprovado, aí incluiria compra
de lixeiras para toda a Universidade, por exemplo. Seria muito mais
rápida a implantação porque não dependeria
dos diretores dos Centros. De qualquer maneira, nós temos
que ter os diretores de Centro trabalhando em harmonia com os chefes
de Departamento e com toda a estrutura universitária. Se
não, nós voltamos novamente à estaca zero,
onde cada um fazia as coisas com o que achava que tinha que fazer.
Agora,
o Campus é uma cidade, praticamente.
É, são vinte mil pessoas. O Campus é uma cidade,
com um agravante: tem um pessoal flutuante muito maior do que uma
cidade. Uma cidade de 20.000 habitantes, tem 20.000 pessoas que
moram e vivem lá. Aqui, não. Nós temos alunos
que entram e, a cada quatro, cinco anos, renova todo o plantel.
O nível de trabalho e conscientização na Universidade
é maior do que em um município. Claro, por um lado,
nós temos esse fluxo muito grande de pessoas, mas por outro
lado, também temos a facilidade que trabalhamos com pessoas
de nível superior. A princípio, é mais fácil
porque a linguagem que se fala é mais rápida de ser
entendida. Trabalhar com alunos é muito fácil. É
uma clientela que aceita muito rápido, que assimila rápido
quando a idéia é boa, e você tem um retorno
muito rápido.
E
essa população de servidores, que é mais permanente,
porém heterogênea, com formações e culturas
diferentes?
Eu diria que aí temos a resistência. A maior resistência
é entre os servidores e os professores, principalmente. Eu
acho que a maior resistência é entre os professores
da Universidade. Porque professor, infelizmente, assume essa postura.
porque a Universidade dá essa liberdade de cada professor
assumir um nível de trabalho, de responsabilidade, que é
quase um projeto individual de cada um, então eles se acham
com direito de fazer o que tem que ser feito da maneira que ele
acha que tem que ser feito, independente de como a administração
universitária está trabalhando essa questão.
Eu diria que a maior dificuldade que nós temos, hoje, é
com os professores, de falar a mesma linguagem. Porque como o professor
atua diretamente com o estudante. se eu partir para uma discussão
com o estudante e falar para ele: olha, funciona assim, e ele entrar
numa sala de aula, em seguida, e o professor falar: não,
não é assim, isso interrompe todo um trabalho que
é feito com o aluno e ele fica confuso e já não
sabe mais prá que lado correr. Um dos problemas é
falar a mesma linguagem. Acho que essa parte é a mais difícil.
Tem vários motivos. Um deles, talvez, é porque falta
informação circulando em nível geral dentro
da Universidade. Outro é porque os professores, às
vezes, acham que o que está sendo feito agora é porque
quem está agora na Reitoria é o Prof. Rodolfo, então
é a gestão do Prof. Rodolfo, e eu sou contra a gestão
do Prof. Rodolfo, então eu não vou fazer nada disso.
Isso não tem nada a ver. Para quebrar esse tipo de postura,
tem que trabalhar com muito carinho, tem que ir corpo a corpo com
os professores e mostrar que isso que está sendo feito é
um trabalho sério, que é importante, que a gente precisa
fazer.
Duas
outras questões importantes: o problema da água dos
córregos e do tráfego de veículos dentro do
Campus.
Essa última questão faz parte do Projeto Humanização
do Campus. Existem várias idéias e questões.
O tráfego foi aberto ali (próximo à Reitoria)
por um período curto enquanto se termina de fazer toda essa
parte da Casan. A prefeitura municipal também tem um projeto
na área do Santa Mônica para mudar o trânsito
por aqui. Na Praça Santos Dumont, o trânsito que vem
da Serrinha vai passar atrás da Igreja, vai mudar o fluxo.
Para o futuro, a idéia é fechar essa rua na frente
do Banco do Brasil para diminuir o ruído e diminuir o tráfego
de caminhão, ônibus, etc. Dentro da perspectiva de
humanização do Campus tem o projeto do bicicletário,
praticamente concreto, já está em licitação.
Vai sair. Os riachos do Campus vão passar a ser limpos a
partir do momento que a Casan limpe o sistema de coleta de resíduos.
É claro que, nesse caso, nós fazemos ter que fazer
um projeto muito grande com o entorno da Universidade porque a contaminação
deles não é do Campus, é de fora. Aliás,
nós fizemos, com alunos de iniciação científica,
algumas análises da água de todos esses córregos.
Lá na Carvoeira, ou na Serrinha, ou no Pantanal, onde eles
entram no Campus, é mais sujo lá do que no final.
Se você fizer uma análise da demanda de oxigênio,
tanto química quanto bioquímica, a demanda é
maior lá na entrada no Campus do que no final. Ou seja, durante
o percurso que ele transita no Campus, o sistema vai se depurando
e ficando melhor. Esse cheiro que você sente é exatamente
a emanação de sulfetos pela decomposição
da máteria orgânica através de bactérias.
Ocorre o mesmo em uma lagoa de estabilização. Então,
se a gente tirar todo esse esgoto que entra no Campus da comunidade
que mora ao redor, nós vamos ter esses riachos limpos de
novo e, fatalmente, também pela coleta que vai ser feita
com rede instalada pela Casan. Acho que, a partir do ano que vem,
nós vamos ter uma melhoria gradativa de todos esses riachos.
Quem sabe, em um ano e meio, nós vamos ter esses riachos
com peixinhos de novo. Então, com relação aos
riachos e ao trânsito, nós vamos ter uma situação
muito mais tranquila do que é hoje. Só que nós
vamos Ter que trabalhar pesadamente com a questão da prefeitura
municipal porque nós não podemos continuar abrindo
estacionamentos dentro do Campus. Acho que nós temos, na
humanização do Campus, diminuir o número de
veículos e incentivar as pessoas virem de ônibus ou
de bicicleta. (.) O nosso Campus é bonito. Se você
visita outros Campus universitários federais, estaduais ou
até particulares, vê que o nosso Campus é muito
bonito, mas só isso não é suficiente porque
nós estamos, inclusive, dentro de uma região que é
próxima de um mangue. Com isso, nós temos todo aquele
projeto de parque do manguezal, que ainda é um projeto, e
nós temos que cuidar dele também porque faz parte
também que é o complexo da Bacia F. Esse mangue faz
parte da Universidade e do município, ou seja, a Floram e
a UFSC tem um projeto conjunto para transformar aquilo ali em um
parque do município. Já foi encaminhado um projeto
ao Banco Mundial. Esse projeto é muito bonito, que prevê
a possibilidade de fazer visitas guiadas ao parque, para ver o que
é o mangue, até mesmo porque nós temos vários
na ilha, e todos estão sofrendo deterioração
por causa da comunidade que está avançando sobre eles,
jogando lixo, etc. O mangue é um viveiro de criação
de peixes, crustáceos, etc, e é muito importante para
o ecossistema da ilha, nós não podemos perder isso.
A
população do Campus está se educando com a
coleta seletiva de lixo?
Olha, eu diria que a quantidade que a gente vê pelo chão,
dentro do Campus, é muito pequena, mas eu acho que nós
precisamos melhorar ainda o sistema porque a população
não tem uma idéia clara do que está acontecendo.
Então, se você olhar essas lixeiras de quatro cores,
mais a preta, essas cores são universais. O azul, o amarelo,
o vermelho, o verde e o preto. em qualquer lugar do mundo, você
vai encontrar essas mesmas cores para o mesmo material. É
uma maneira de educar as pessoas para usarem as cores que são
padrão. Por outro lado, a gente sabe que, no Brasil, a reciclagem
ainda é feita por pessoas que tem renda muito baixa ou renda
nenhuma. Na verdade, não a reciclagem propriamente, mas a
triagem do material, esse é o emprego que eles têm.
Se você elimina esse trabalho, você acaba eliminando
o emprego dessas pessoas. Então, nós temos um problema
que temos que trabalhar melhor. O volume de pessoas empregadas nesse
trabalho é muito grande. A Promenor, por exemplo, é
uma empresa filantrópica, ela tem mais de cem funcionários
que trabalham com triagem. Claro que, para o futuro, você
poderia pensar que todo papel deveria estar acondicionado de forma
correta, que qualquer pessoa viesse e pudesse levar embora, sem
precisar fazer uma triagem extra. Hoje, nós não temos
condição de fazer isso. Por isso é importante
ter essas lixeiras com essas cores, para todo mundo conhecer. Quando
o pessoal do Promenor vai nas lixeiras, eles tiram e colocam tudo
junto de novo. Por que? Aqui, a separação não
é muito boa e porque eles vão Ter que separar tudo
de novo lá. De qualquer maneira, eles preferem colocar tudo
junto e separar lá. Então, prá nós,
aqui dentro do Campus, se tivesse duas ou três lixeiras com
cores diferentes seria suficiente, mas, por outro lado, isso acaba
não criando aquele princípio básico de educação
ambiental de separar o material, como é em países
desenvolvidos. A lixeira preta, então, é prá
esse tipo de lixo que é misturado, que não dá
prá separar ainda, tem que ser levado junto.
Além
da descontaminação das lâmpadas, em que outros
trabalhos a Coordenadoria está trabalhando junto com o Programa
Interno de Conservação de Energia (PRUEN)?
Temos dois programas: o programa de conservação de
energia e o programa de conservação e reuso da água.
Esses projetos foram incorporados pela gestão ambiental e,
inicialmente, eram projetos separados. Existe há mais ou
menos dois anos, um grupo de pessoas da Engenharia Elétrica,
Engenharia Mecânica, entre outros, que tem projetos com a
parte elétrica. Alguns projetos já foram incorporados
dentro da Universidade, que é a melhoria de reatores e lâmpadas
para ver todo esse fluxo, até prá normatizar isso.
Então, é um trabalho que está sendo feito há
mais de ano e, agora, com essa necessidade urgente de reduzir gastos,
nós estamos incentivando esse processo e transformando ele
num processo mais rápido com propaganda, etc, mas ele já
existia esse trabalho, só que a passo mais lento. Agora,
ele se tornou um projeto de prioridade máxima, justamente
com essa questão de conservação de energia.
Dentro desse Programa, nós temos a parte de divulgação
das idéias, o pessoal que trabalha na parte técnica,
dimensionamento de lâmpadas, etc, e a parte de pesquisa, um
grupo que verifica a melhor lâmpada, o melhor reator, fazer
medidas de luminosidade em locais para saber qual é o tipo
de lâmpada adequado, se tem lâmpada em excesso ou é
deficiente. São três grupos de trabalho.
O
Campus tem uma série de equívocos nas construções.
Para as futuras construções: já existe algum
tipo de normatização com aproveitamento dos regimes
dos ventos, da luminosidade natural, etc?
Está sendo feita uma cartilha de normatização
nessa parte de construção. O que, normalmente, acontece
numa universidade pública como a nossa? O governo federal,
por exemplo, no dia 27 de dezembro acena com 500 mil reais para
construir um prédio. Então, você tem que mostrar
até 30 de dezembro, um projeto. O que o Reitor faz? Verifica
as prioridades que existem e sai como um louco ver quem tem uma
planta pronta. Pega-se essa planta e manda, é essa que vai
ser feita e pronto. Então, acontecem muitos erros de construção
porque, às vezes, é um projeto mal elaborado, feito
às pressas, onde toda a parte elétrica, de água,
de iluminação, p. ex., mal dimensionada. O que nós
queremos é tudo isso seja previsto, antes de começar
a construção. (.) O último prédio inaugurado
aqui foi o prédio da Matemática, ele já tem
tem toda essa previsão, inclusive cabos de rede, a parte
de ar condicionado com saída para água não
ficar pingando, a parte de controle de luminosidade, a posição
correta das luminárias, etc. Tudo isso está sendo
revisto, claro que não é uma coisa muito simples porque
a Universidade é muito grande. Normalmente, as coisas são
feitas muito às pressas, quando aparece o dinheiro, você
tem que estar com o negócio pronto, aí se esquece
de toda essa questão, acaba cometendo erros, verificando
que quando o prédio está pronto, precisa gastar o
dobro depois para instalar ar condicionado, luminárias, etc.
No prédio do CCE, em cima do bar do Básico, todos
os aparelhos de ar condicionado estavam pingando em cima da entrada.
Nós fizemos um trabalho, onde a prefeitura do Campus orçou,
foram cinco mil reais para colocar encanamento para evitar que os
aparelhos pinguem em cima da cabeça de quem passa por ali.
É uma área gostosa, onde as pessoas ficam por ali,
entre uma aula e outra, batendo papo, não pode ser um lugar
onde as pessoas não possam sentar porque tem um ar condicionado
que pinga na cabeça. Além do aspecto ruim. Veja, foram
quase seis mil reais, um trabalho que não precisava ser feito
se tivesse sido previsto na construção.
A
Universidade gasta muito com água?
A luz e a água, digamos assim, são a pedra no sapato
da Universidade. Dentro desses projetos, a questão de economizar
água e energia entra exatamente na questão de que
se você economiza, você pode usar esse dinheiro para
outros benefícios.
O
Sr. tem os valores desses gastos?
Bom, nós fizemos um levantamento agora. Luz está na
faixa de R$ 350 mil, em média, por mês. Água
está na faixa de R$ 80 mil, em média, por mês.
Isso
é bastante ou é muito para uma instituição
do tamanho da UFSC?
É bastante. Eu diria que, dentro do estado de Santa Catarina,
a Universidade é o maior consumidor. Considerando empresas
de grande porte de Blumenau, ou outras empresas, eu tenho impressão
de que a UFSC é quem mais gasta energia. É claro que
isso não é uma coisa muito simples porque você
tem, por outro lado, um Campus com um nível das melhores
universidades do Brasil, está crescendo, a pesquisa da UFSC
está entre as pesquisas de ponta no Brasil, então
você pode tem equipamentos de grande porte, equipamentos sofisticados
que requer manutenção e é normal que se gaste
bastante energia. Acho que, dentro dessa perspectiva, existe a possibilidade
de se instalar uma termoelétrica dentro do Campus exatamente
para tentar resolver esse problema.
Mas
a termoelétrica não vai poluir?
Depende. A idéia seria utilizar o gás natural. Essa
é uma possibilidade interessante porque esse gás natural
comprado da Bolívia, é um gás mais barato,
a emissão de poluentes pela queima do gás é
muito baixa. Então, produz CO2, mas partículas sólidas,
muito pouco. Eventualmente, você pode colocar filtros para
diminuir a emissão de CO2 e, por outro, você teria
todo o aquecimento de água, isso poderia ser usado por todos
os locais da Universidade, como o HU e o próprio Restaurante
Universitário, diminuiria muito o uso de energia elétrica.
Mas
esse gás natural é importado, é pago em dólar.
Ele é pago em dólar, mas se você considerar
R$ 350 mil por mês de energia elétrica. se você
investir R$ 350 mil por mês, você consegue construir
uma usina termoelétrica de pequeno porte, que geraria energia
suficiente para a Universidade e ainda conseguiria, talvez, vender
energia para a região em torno da Universidade.
E
o projeto das placas com coletores de energia solar?
Existem muitas alternativas. O Labsolar está trabalhando
nisso. Nenhuma das alternativas pode ser excluída, mas, de
fato, para resolver o problema de energia no Campus, a energia solar
não é suficiente e é muito cara. Você
não teria como resolver o problema com energia solar e muito
menos com energia eólica. Mas é claro que essas energias
não podem ser desprezadas, elas têm que ser somadas
ao sistema, até porque, nos projetos de pesquisa, você
tem que ter esse material andando. É uma energia que, no
futuro, com certeza, vai ter que ser melhorada e ser usada porque
é energia limpa.
O
verão é um período crítico, no Campus.
Não se consegue trabalhar sem ar condicionado e, muitas lugares,
sem a luz acesa. Tem se repetido, a situação de que,
vez em quando, a subestação não suporta a demanda.
Exatamente. Nós fizemos um levantamento no CFM (Centro de
Ciências Físicas e Matemática). De manhã
cedo, tipo seis horas, o gasto é de 10. não sei exatamente
se é 10 KW. sei que é 10 amperagem medida na subestação
da CFM. Quando chega em torno de 11 horas, você está
em mais de 100. Então, você passa e multiplica por
um fator de 10. Isso nessa época do ano (junho), sem muito
ar condicionado. Então, imagina no período de pico
do verão, com dias extremamente quentes. Depois do dia 15
de dezembro, começa a diminuir o fluxo de gente no Campus.
Mas março, por exemplo, quando a maioria já está
de volta, se tem valores astronômicos de gasto de energia
por causa de ar condicionado, equipamentos funcionando. Isso, realmente,
não dá prá achar que se resolver apenas com
sistemas de iluminação, apagar luz, isso não
é suficiente. Os grandes vilões são os aparelhos
de ar condicionado e os grandes equipamentos, e isso não
dá realmente prá desligar. Com relação
à água, os grandes gastos são com o Hospital
Universitário, o Restaurante, o prédio da Química,
onde tem muitos laboratórios, mas para diminuir não
é uma coisa fácil. O HU já tem internamente
um gerenciamento razoável da água, você consegue
melhorar, consegue diminuir, mas não muito. O que dá
é reusar a água porque a lavanderia gasta muita água,
faz dez enxagues para garantir que a roupa saia limpa. Então,
a água depois do quinto enxague, poderia ser armazenada numa
cisterna e reusar depois em outros setores. Na Química, por
exemplo, nos laboratórios, se pode até pensar em reusar
a água, mas também tem o problema da contaminação.
Porque se você reusa a água que está contaminada,
você pode contaminar o sistema e acabar prejudicando a saúde
das pessoas ou até o meio ambiente. Tem que ter um cuidado
muito grande. Nesse bicicletário novo que está sendo
construído existe todo um sistema de reuso de água,
onde a água que sai das pias e dos chuveiros é coletada,
a água de chuva que cai no telhado é coletada e volta
para o sistema para a descarga dos sanitários. Nos prédios
novos também pode se construir dois sistemas com caixas de
água, um para sistema de descarga e outro para sistema de
água normal. Hoje, na Universidade, todo o nosso sistema
de banheiros é com fossas e sumidouros e esse sistema, numa
bacia como a nossa aqui, não funciona muito bem. Porque nós
temos uma bacia muito baixa, se cava e a um metro tem água.
Então, as nossas fossas já estão com água
até a metade, qualquer chuva acaba transbordando. Isso é
ruim porque acaba contaminando o lençol freático.
Então, o sistema de tratamento da Casan é muito importante.
O Hospital Universitário, que é um local mais crítico,
tem um sistema de tratamento de esgoto que funciona razoavelmente
bem. Nós estivemos fazendo análises periódicas
e a água que sai lá é razoável, não
tem grandes problemas.
O
Sr. falou em mobilizar as pessoas externas que prestam serviços
também à Universidade nesse grande projeto de gestão.
E o caso dos bancos, da farmácia? É a mesma coisa.
Eles atuam por processo de licitação. O Banco do Brasil,
a Caixa e o Besc, na época em que se instalaram, se instalaram
por vinte anos. Me parece que são vinte anos. Dependendo
do tipo de contrato, você não pode impor nada porque
não tem como cobrar. Tem que negociar a questão de
eles se adaptarem. Eles tem que entrar no mesmo processo. Bem como
os Colégios Agrícolas de Camboriú e Araquari,
que também fazem parte da Universidade, e a gestão
ambiental também está atuando lá. Eles estão
trabalhando com a mesma filosofia, com o nosso apoio, porque eles
têm criação de animais, é uma questão
mais específica. O objetivo final é a possibilidade
de ter uma ISO 14.000. Nós estamos trabalhando para isso.
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