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Luiz
Augusto Madureira dos Santos, químico industrial,
professor doutor em Geoquímica do Departamento de Química
e Pesquisador da Central de Análises Químicas
(UFSC)
Os
assuntos são poluição de mangues, vazamento
de petróleo, análise de combustíveis
e pesticidas
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Que
projeto conjunto é esse que o Sr. está desenvolvendo
em conjunto com a Univali (Universidade do Vale do Itajaí
- SC)?
Este projeto nós estamos fazendo junto com o CTTMar (Centro
de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar), da Univali.
A idéia é fazer um levantamento sobre a atual situação
de toda a região da Baía da Babitonga (região
de Itajaí - SC) em termos de contaminantes (metais e hidrocarbonetos)
e investigar a toxicidade e os potenciais de bioacumulação
e mutagenicidade dos poluentes orgânicos presentes nos sedimentos.
A prof. Valéria Belotto, do CTTMar, vai acompanhar a presença
de metais pesados, metais tóxicos, em mexilhões; a
minha parte é analisar os compostos orgânicos.
Que
tipo de poluição tem ali na Babitonga?
Olha, ali é uma região altamente impactada. Não
só pelo tráfego marítimo, mas por todo o pólo
industrial da região da grande Joinville, envolvendo aqueles
cinco municípios que pertencem à baía da Babitonga.
Tudo vai para a baía. Outro professor, aqui da bioquímica,
o prof. Afonso Bainy, também está fazendo um estudo
naquela região, usando peixes. Eu não fui acompanhar
o trabalho com ele, mas um aluno meu foi e disse que é terrível.
É dantesco. O nível de contaminação
ambiental por causa de metais pesados é altíssimo
porque tem indústrias ali que trabalham com galvanoplastia,
por exemplo, e isso envolve o uso de grande quantidade de metal
e também de cianeto, que depois é descartado nos rios.
Eu não tenho informação sobre os tratamentos
que as empresas fazem. Talvez as empresas maiores já tenham
a sua estação de tratamento, mas para as menores talvez
ainda não seja economicamente viável.
Quais
são as empresas mais poluentes?
Normalmente, essas empresas que trabalham com galvanoplastia, que
envolve cromagem, costumam ser altamente poluentes porque trabalham
com muita quantidade de metal. Zinco, cromo e alumínio, por
exemplo. Polui, principalmente, água. Eu trabalho mais com
as substâncias orgânicas. Havia uma contaminação
muito grande por parte das indústrias de celulose e têxtil,
durante o processamento de branqueamento do papel e o alvejamento
do tecido. Isso já está bem controlado. Era um problema
que existia por causa da formação dos chamados compostos
organoclorados, devido ao processo de branqueamento do papel ou
do tecido. Adicionava-se cloro e esse cloro podia reagir com algum
efluente orgânico formando compostos do tipo organoclorados.
Agora, infelizmente, o que já foi para o ambiente tem um
processo de degradação muito lento. Isso ainda vai
ficar aí por um certo tempo nos sedimentos dos rios da região.
Não tem como retirar. O que se encontra no ambiente somente
com o passar do tempo é que pode degradar. (…) O nosso
projeto conjunto com a Univali é um convênio com repasse
de recursos do CNPq para o Estado, através do Funcitec, para
que o dinheiro chegue aos grupos que tiveram seus projetos aprovados.
Os projetos foram aprovados em 1999 e, agora felizmente, foi assinado
o convênio. (…) No meu caso, o trabalho é ir para
a baía da Babitonga coletar as amostras e depois fazer as
análises. Na verdade, a gente já fez alguma coisa.
Nós coletamos amostras, eu e um dos meus alunos de mestrado,
junto com a professora Therezinha de Oliveira, que é a atual
coordenadora de pesquisa e pós-graduação da
Univille. Ela nos levou para dois lugares na baía: Lagoa
do Saguaçu e praia da Vigorelli. Em apenas dois dos pontos
que nós coletamos sedimento, já deu prá identificar
uma série de hidrocarbonetos provenientes de combustível
fóssil.
Esses
resíduos de combustíveis (petróleo, etc) também
são poluentes orgânicos?
Sim. Esses são compostos orgânicos, basicamente formados
por hidrocarbonetos, mas que também podem conter oxigênio,
enxofre e nitrogênio São considerados de alto risco
devido aos efeitos tóxicos que causam nos organismos aquáticos,
por exemplo.
Esses
vazamentos freqüentes de petróleo que temos visto…
Quanto tempo leva para recuperar a área degradada?
Isso pode demorar muito tempo, dependendo do tipo de ambiente
impactado. Desde que houve aquele grande desastre lá no Alasca,
com o Exxon Valdez, até hoje, se fizermos uma busca na literatura,
a gente ainda encontra trabalhos falando sobre o que restou na região.
Mesmo com a limpeza que fizeram. Realmente, conseguir agora que
haja uma restauração completa, vai demorar muito…
Cinqüenta, cem anos. Nessa região da Babitonga, uma
preocupação minha, e da professora lá da Univali,
é que a Petrobrás tem a chamada monobóia ali
próximo da região de São Francisco do Sul.
A monobóia normalmente recebe o óleo dos navios, que
tanto podem carregar como descarregar nessa monobóia. Dali
segue por um oleoduto até o terminal que fica no porto de
São Francisco do Sul, depois o oleoduto atravessa toda a
baía da Babitonga para abastecer a refinaria de Araucária
(PR). A nossa preocupação é que, só
no ano passado e nesse ano, já ocorreram uns três ou
quatro problemas de vazamento na região do Paraná,
próximo a Curitiba, envolvendo os rios que abastecem, inclusive,
o interior do Estado. Felizmente, a gente não teve problema
ainda na Babitonga, mas por isso que a gente quer também
fazer um levantamento em toda a região. Como se encontra
hoje a região em termos de contaminação por
combustível fóssil ? A gente não sabe o que
existe hoje e nem o que poderá acontecer com um eventual
desastre ali na região. A gente não quer que aconteça,
mas passa um oleoduto ali pela região…
Como
é o processo de degradação do óleo no
ambiente?
O que a gente sabe que ocorre é que uma parte mais leve do
óleo vai ficar na superfície e a tendência,
principalmente no mar, é começar a ter o aparecimento
de manchas e com o passar do tempo uma espécie de aglomerado
em forma de borra acaba sendo formado e fica flutuando. Esses aglomerados,
como se fossem blocos de gelatina, ficam flutuando e podem ficar
à deriva pelo oceano. Por isso, a preocupação
que se tem logo de tentar conter que o óleo antes que se
espalhe. Quando ele vai para o alto mar é mais vantajoso
porque ele começa a se dispersar, se dissolver… Quer
dizer, ele vai se diluindo pela água, e isso facilita a própria
degradação, ou pela fotoquímica promovida pelo
sol ou pelos próprios organismos que vão degradando.
Normalmente, pode persistir no mar por um período de até
sete dias. Mas, isso vai depender do tipo de óleo, viscosidade,
etc. O problema é quando o óleo vem para a costa,
para a praia e os costões, porque ele começa a impregnar
o ambiente, começa a aderir nas pedras e moluscos, na areia,
nas plantas e nos corpos dos animais. Se for uma região de
manguezal, a catástrofe é inimaginável pois
causa o recobrimento físico da fauna, como os caranguejos,
por exemplo, e flora, leva à narcotização e
pode ainda acontecer de alguns organismos absorverem uma parte do
óleo. A chamada fração hidrossolúvel.
Pra se ter uma idéia do risco, a Cetesb de São Paulo,
numa escala de 1 a 12., considera acidentes em manguezais como sendo
de risco máximo, ou seja, nível 12.
Agora
tem um spray dispersante que eles utilizam…
A idéia do dispersante é tentar fazer com que ocorra
uma diluição do óleo, facilitando a sua dispersão
na água do mar. No entanto, para vazamentos em regiões
costeiras, não é recomendável pois o que se
quer é conter o óleo e não espalha-lo para
acabar atingindo outros ambientes na costa. Pode-se usar barreiras
absorventes, por exemplo.
O
Sr. também faz análise em mangues.
Em manguezais e também nós temos trabalhado tanto
na Lagoa da Conceição quanto na Lagoa do Peri. O pessoal
da biologia, a Prof. Clarice, e o Prof. Eduardo Sierra, do NEMAR,
que trabalham bastante nessas áreas, já colaboraram
com a gente. O meu interesse é trabalhar com os compostos
orgânicos. Alguns têm origem na própria matéria
orgânica terrestre, outros têm origem na biomassa marinha
e outros podem ser indicadores de contaminação do
ambiente. Podem ser indicadores da contaminação proveniente
dos descartes dos restaurantes, por exemplo, que tem em volta da
Lagoa como também podem ser indicadores de contaminação
não só de esgotos domésticos mas também
de combustíveis fósseis, no caso, petróleo
propriamente dito. Nós fizemos um primeiro trabalho em 1996,
que resultou em uma dissertação de Mestrado, ali na
Lagoa da Conceição. Naquele estudo, nós não
encontramos substâncias provenientes de combustível
fóssil. O que identificamos, basicamente, foram substâncias
provenientes das próprias microalgas que vivem na lagoa e
de plantas terrestres, possivelmente carreadas pelas chuvas ou pelos
os rios para dentro da Lagoa. Agora, passados cinco anos, nós
coletamos novamente amostras de sedimentos nos mesmos locais. No
momento, nós estamos desenvolvendo um novo método
para fazer análise de outras substâncias. É
possível que a gente não ache os compostos procedentes
de petróleo, mas devemos encontrar indicadores de contaminação
provenientes de esgoto. Essas substâncias a gente já
conseguiu identificar no manguezal do Itacorubi, que está
altamente impactado. Está bem no centro, recebe uma carga
muito grande de efluente doméstico. No caso das substâncias
procedentes da gasolina, por exemplo benzeno, tolueno e xileno,
o problema é que algumas são muito voláteis.
Então, se perdem rapidamente e não dá prá
acompanhar. Lá na baía da Babitonga, nós conseguimos
identificar os componentes mais pesados, que não volatilizam
com facilidade. Na verdade, nos sedimentos de lá da baía
nós conseguimos identificar os poluentes provenientes de
rejeito doméstico e também os poluentes oriundos do
petróleo. Nós também fizemos um comparativo
do tipo de extrato orgânico obtido a partir de amostras de
sedimento do manguezal de Ratones, dentro de uma área de
preservação, e esse aqui do Itacorubi. A gente consegue
perceber uma diferença em termos de contaminantes procedentes
de esgoto, por exemplo. Em Ratones, a gente não identifica
essas substâncias. Enquanto aqui, no Itacorubi, a gente consegue
identificar bastante. Como nós agora temos esse método
para separar bem essas substâncias, e já conseguimos
coletar amostras lá na Lagoa da Conceição,
vamos refazer essas análises especificamente para tentar
identificar essas substâncias. O trabalho, que é uma
tese de Mestrado, é para fazer a análise dos sedimentos
de superfície, que fazem o interfaceamento com a coluna d'água,
e pretendemos coletar também testemunhos no sedimento de
até 2 metros de profundidade. A idéia é fazer,
junto com o grupo do prof. Mozeto, da Universidade de São
Carlos (SP), a datação desse sedimento (geocronologia)
e com isso obter uma estimativa sobre a partir de que época
devem ter começado a entrar esses poluentes no sedimento.
Com essas análises vai dar prá dizer: olha, a partir
da década de 80 já dá prá verificar
a presença dessas substâncias.
O
Sr. também já fez análise de tomates aqui na
Central, é isso?
Foi, junto com o prof. Henri Courseil, nós desenvolvemos
um método para análise de pesticidas nos tomates produzidos
ali na região da bacia do Cubatão (Palhoça
- SC). O trabalho vai ser publicado esse ano em uma revista científica.
As plantações de tomates daquela região abastecem
praticamente todo o Estado. Inclusive, para analisar um tomate que
a gente tivesse certeza que não tinha problema de pesticida,
nós fomos ao supermercado e compramos tomates orgânicos.
Realmente, não apareceu nada. Foram esses que a gente usou
para desenvolver toda a metodologia de análise. Depois, pegamos
tomates no Ceasa e a gente identificou duas dessas substâncias,
mas em baixíssima quantidade. Eu acho que, basicamente, lavando
bem os tomates, você já resolve o problema. A maioria
desses organofosforados que eles usam tem um tempo de vida muito
curto e degradam muito rapidamente. O tomate, ali mesmo na plantação,
recebendo a luz solar e a chuva, já ajuda a lavar e degradar
uma boa parte.
E
os produtores usam muito esses organofosforados?
Eles usam bastante. Eu não sei dizer quanto, mas a ordem
de grandeza é de toneladas, considerando várias plantações.
Mas o produto final, o tomate que vai prá mesa do consumidor,
não tem muita coisa. Nós não fizemos um acompanhamento
porque faltou verba. Enquanto nós estávamos desenvolvendo
o método em laboratório era mais fácil, mas
sair a campo, conseguir os tomates, nem sempre os agricultores querem
fornecer porque eles acham que isso vai ser usado, de alguma forma,
contra eles. Isso também é difícil… Então,
essa parte de sair para o campo, pegar o tomate no qual tenha recebido
aplicado recentemente o pesticida, depois fazer um estudo da degradação
de cada pesticida, acompanhar o produto até o supermercado,
a gente não fez porque faltou financiamento.
Existem
muitos tipos de pesticidas?
Pesticida é um termo geral, porque, na verdade, ele cobre
uma larga variedade de substâncias como inseticidas, herbicidas,
fungicidas, acaricidas, etc… No caso dos inseticidas, tem a
classe dos organoclorados, que estão banidos como o clássico
DDT, aldrin e endrin, por exemplo. Eles podem gerar resíduos
tóxicos e também permanecem por muito tempo no ambiente.
Penetram no lençol freático, podem atingir os rios
e também podem permanecer no sedimento por um longo tempo.
Além disso, podem ser ingerido junto com o alimento pelos
peixes e o homem. Eles têm a tendência de bioacumularem,
ou seja, permanecerem no tecido adiposo, em alguns órgãos
do próprio corpo humano ou dos animais.
Por
quê no tecido adiposo?
É por causa da afinidade que alguns deles têm com a
gordura. Por ser orgânico, então consegue se solubilizar
com facilidade no tecido adiposo. Essa classe de pesticidas, os
organoclorados, foi desenvolvida desde a época da Segunda
Guerra Mundial. Depois essa geração terminou e vieram
os carbamatos, piretróides e organofosforados, que são
mais degradáveis, ou seja, não são tão
estáveis quanto os organoclorados, gerando menos resíduos.
Tem uma outra classe que é muito usada como desfolhante,
que inclui o Tordon. É muito utilizado como desfolhante para
o pasto, para eliminar ervas daninhas. Existem as recomendações
de quantos dias a área tem que ficar isolada para só
depois permitir o pasto. Eu fiz um trabalho com um aluno de iniciação
científica sobre a presença desses compostos em gramíneas.
Como ele é do interior, ele tava curioso de analisar as gramíneas
para ver quanto teria dessa substância. A gente achou bastante
quantidade porque ele coletou logo depois que foi aplicado. Esse
trabalho, de 97, eu fiquei interessado em fazer porque um engenheiro
agronômo entrou em contato com a Central de Análises
para saber se nós fazíamos análise do Tordon.
Então, ele explicou que a suspeita era que o Tordon havia
contaminado uma plantação de batatinha em uma fazenda
vizinha a de um fazendeiro que havia aplicado Tordon para limpar
todo o terreno e depois colocar o gado. Havia a suspeita de que
a chuva e o vento haviam levado o Tordon prá plantação
vizinha, de batatinha. Nós fizemos essa análise e
achamos um pouco de um dos componentes ativos do Tordon nas folhas
da batatinha. Quer dizer, às vezes, se aplica num local e
ele vai ter efeito mais adiante.
A
contaminação mais direta, digamos, no pessoal que
aplica esses pesticidas . Quais são os sintomas e efeitos
sobre o organismo?
Olha, o que a gente ouve falar, inclusive ali do Centro de Informações
Toxicológicas (CIT) do Hospital Universitário, são
relatos de casos de agricultores que chegam com os mais diferentes
sintomas. Tremedeira, cegueira… dependendo da substância
que eles estão aplicando. Eles reclamam muito de coceira
na pele, tremedeira ou cegueira. Esses são os efeitos mais
agudos. Crônicos… generalizando, do que a gente ouve
ali no Hospital, são problemas de batimento cardíaco,
a pessoa começa a ter arritmia. Esses são os problemas
mais gerais, cada uma das substâncias tem os seus efeitos
específicos. Por exemplo, uma ou outra poderia causar até
câncer no fígado porque a pessoa vai "ingerindo"
o pesticida e vai acumulando no fígado.
Mas
já existe a tecnologia para produzir pesticida com menos
efeito nocivo sobre a saúde…
Ah, sim. Inclusive, essa é a tendência, tentar
fazer com que eles sejam pesticidas e não biocidas. Biocida
é aquele que, além de fazer o serviço dele
que é eliminar uma determinada praga, por exemplo, ele faz
uma verdadeira profilaxia, ele mata tudo. Por exemplo, pode ser
um fungicida… ele não só mata o fungo que tá
causando o problema no tomate ou na maçã, mas também
elimina tudo, digamos, outros fungos que são interessantes
para decompor a matéria orgânica. Quer dizer, são
os fungos importantes para o ambiente, porque justamente vão
ajudar a degradar a matéria orgânica. E, às
vezes, esses fungicidas funcionam como verdadeiros biocidas. Eles
vão eliminando tudo. A tendência, hoje, é que
eles sejam o mais seletivo possível, apenas com a aplicação
específica para um certo fim. Quer dizer, por parte do agricultor,
é preciso também que ele use de forma mais racional.
Os municípios têm os seus engenheiros agrônomos
para poder explicar como eles têm que aplicar, mas, às
vezes, eles acabam concentrando mais para deixar o produto "mais
forte". Inclusive, quando nós fizemos a análise
do Tordon, lá no próprio local onde estava sendo aplicado
na gramínea, o rapaz que ia aplicar disse: "olha, como
vocês vão pegar prá analisar, eu vou preparar
um pouquinho mais fraco". Então, você imagina…
É
meio habitual, então. Eles acham então que preparar
mais forte…
É, "eu vou preparar mais forte para ver se aí
mata mais". Tem um outro aluno que trabalha comigo, aqui na
Central de Análises, que é do Norte do Estado, ali
da região de Rio Negrinho, acompanhou um caso. Ele também
ajudava o pai na agricultura. O que ocorre é que algumas
dessas substâncias colocadas em grãos também
provocam não só a contaminação do solo
como dos pássaros. Eles pensam que aquilo é algum
alimento e vão lá, pegam e comem.
Como
funciona a Central de Análises? Que tipos de análises
são feitas?
Aqui, nós podemos fazer basicamente a análise de metais
em diferentes tipos de matéria prima. Pode ser em areia,
água, solo, alimento, etc. Às vezes, a indústria
da construção civil solicita análise para verificar
o teor de sal na areia que vai ser usada para construção.
Também fazemos análises de compostos orgânicos,
solventes e alguns tipos de pesticidas. Pode ser em água,
em solo, etc. A gente pode fazer a análise tanto da parte
orgânica quanto inorgânica. Análise de combustíveis…
E
os nossos combustíveis são confiáveis?
Olha, eu acho que o combustível daqui do Estado está
muito bom no momento. Nós temos feito bastante análise
de diesel, gasolina e álcool, até mesmo prá
ver o teor de água na gasolina. Basicamente, o que se pede
prá ver é a presença dos chamados "adulterantes",
são compostos do tipo orgânico. Alguns são usados
como solventes para tintas. Como eles normalmente são mais
baratos, acabam sendo adicionados ao combustível. (…)
O chumbo, não. Ele está banido no Brasil desde a década
de 80. Felizmente, esse problema a gente não tem mais. Esses
combustíveis que aparecem como adulterados, é por
causa da presença de solventes que o pessoal adiciona. Algumas
dessas substâncias já existem naturalmente na gasolina,
aí eles aumentam um pouco mais. Nós temos algumas
técnicas para essa análise. A mais simples é
examinar a densidade do combustível. Geralmente, ele fica
com uma densidade um pouco menor com a presença dessas substâncias,
elas são mais leves.
Nos
postos, tem aqueles recipientes de gasolina ao lado da bomba com
as bolinhas boiando…
É prá dar uma idéia pro consumidor da densidade
do combustível. No caso dos laboratórios, tem um outro
processo, chamado destilação, para verificar se a
gasolina foi fraudada. Nós analisamos as frações
que são obtidas nessa destilação e dá
prá perceber claramente se houve fraude. Quando há
uma suspeita de fraude, a gente pode fazer ainda um outro tipo de
análise, usando a cromatografia gasosa, para separar cada
uma das substâncias presentes na gasolina. Por ali, eu consigo
verificar se há alguma substância em quantidade maior
do que deveria ter ou se existe alguma substância nova. Como
eu tenho uma amostra da gasolina padrão, eu consigo comparar
e ver. Tem como monitorar bem. Aqui, em Florianópolis, não
pegamos nenhum caso de adulteração. Pelo menos nos
postos que nós analisamos. Nós não fazemos
um trabalho de sair a campo. Na verdade, são os postos que
têm nos procurado até para servir como respaldo da
gasolina que eles estão vendendo, que tá de boa qualidade.
Agora, é muito dinâmica essa troca de combustível
no tanque dos postos, porque eles estão recebendo, continuamente,
uma nova carga do caminhão.
Ela
já pode chegar adulterada?
É, não é o dono do posto que tem interesse
em adulterar. Acho que, em 100% dos casos, o problema é o
atravessador. É o mistério do caminhão que
sai da refinaria e, misteriosamente, vai em algum local, batiza
a gasolina e depois vem pro posto (risos).
E
o álcool?
A gente também faz. O principal é ver o teor de água.
A adulteração não é tanta, com solventes,
também porque não é viável economicamente.
Aqui, em Florianópolis, a gente também faz essa análise
de água no combustível porque aqui é uma cidade
litorânea e, às vezes, a umidade relativa do ar vai
acima de 90%. É claro que essas substâncias, principalmente
o álcool, pode absorver água e causar um aumento do
teor de água no próprio combustível, mas isso
é devido ao próprio ambiente. O certo é não
ter água, mas, às vezes, o percentual que tem é
muitíssimo baixo, não chega a prejudicar o desempenho.
A não ser no caso de uma catástrofe, um caso de enchente,
que tenha entrado água no posto, no tanque onde está
armazenado o combustível. Uma vez houve uma suspeita dessas
e imediatamente o pessoal trouxe o combustível aqui para
analisar.
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