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Claudionor
Vieira, técnico em Eletrotécnica pela Escola
Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis),
funcionário, desde 1987, das Centrais Elétricas
de Santa Catarina (Celesc), onde começou a atuar como
instrutor do Departamento de Capacitação Pessoal
(CeFA) a partir de 1996.
Os
assuntos principais são segurança e economia
no consumo de energia elétrica
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As
pessoas conhecem pouco sobre energia elétrica?
Muito pouco. Se soubessem mais, não fariam o que fazem por
aí… Utilização incorreta, se submetem
a riscos de segurança… Não procuram um profissional
habilitado que conheça a parte de eletricidade, contratam
qualquer um. Acham que qualquer um faz isso. A grande preocupação
com a eletricidade é o risco que ela tem porque você
não vê essa energia… Então, a lâmpada
não está acesa e o cara acha que não tem energia
ali. Pode ter energia, pode ter uma fuga de energia, pode ter algum
problema porque os equipamentos não foram aterrados como
deveriam. Esse é um dos grandes problemas que vejo porque
o pessoal deveria usar aterramento para se proteger contra choque
elétrico. Poucos fazem aterramento. Geralmente, o fio verde,
como eles dizem, está guardado atrás da geladeira,
pendurado atrás do forno… Quando não têm
a tomada tripolar, como tem o microondas, geralmente o pessoal não
usa o fio terra. Usam muito nos prédios porque aí
é obrigado pela norma a fazer aterramento, mas em residências,
não.
Quais
são os problemas mais comuns em instalações
elétricas?
Instalação mal feita. O cara não utiliza os
condutores de acordo. O fio de fase é que deve ser interrompido,
não o neutro. Muita gente, em vez de ligar o fio fase no
interruptor, liga o neutro. Existe risco aí. A lâmpada
acende, mas na verdade ele não interrompeu o fase, interrompeu
o neutro. Mesmo que eu desligue e a lâmpada apague, a fase
está lá. É um risco de segurança…
Quem não conhece eletricidade, acha que tá tudo bem..
"Ah, o importante é a lâmpada acender". E
não é. Outra coisa: a pessoa não olha a capacidade
dos equipamentos. Por exemplo, a tomada é prá 10 ampéres
e o cara coloca um equipamento de 20 ou 30 ampéres…Então,
derrete a tomada, pega fogo… Acham que fio grosso economiza
energia. E, na verdade, não economiza. Tudo isso é
risco.
De
que forma as pessoas podem acompanhar o consumo mensal de energia?
Acompanhando a leitura mensal conforme calendário que a Celesc
manda via fatura. Todo começo de ano, a Celesc manda esse
calendário, lá no verso da fatura. Na fatura tem a
data da próxima leitura… Pode acompanhar por aí
e tirar também a leitura do relógio. Agora, tirar
a leitura até não é difícil, mas precisa
conhecer o giro dos ponteiros. Sempre tirar os números da
direita prá esquerda, olhar o ponteiro anterior prá
confirmar o próximo…
E
se tiver alto o consumo, como faz para reduzir? Quais são
os vilões?
Um grande vilão e que o pessoal, às vezes, não
se preocupa é a iluminação. Reduzir a potência
das lâmpadas, utilizando lâmpada fluorescente compacta,
é uma maneira de reduzir o consumo. Às vezes, se usa
uma lâmpada de 150 watts que não precisaria ser de
150, poderia ser de 100. Então, o consumidor tá jogando
fora esses 50 watts e tá pagando por eles… O tempo de
uso do chuveiro. O chuveiro tem uma potência elevada e o pessoal
ainda aumenta o tempo de uso, fica vinte ou trinta minutos. Tudo
isso contribui para que o consumo vá lá prá
cima. Pelo Procel, o correto é 8 minutos de banho.
Conservar
energia não é deixar de lado o conforto…
O que eu falo sempre é o seguinte: conservar é combater
o desperdício sem eliminar o meu conforto.
O
Sr. concorda que há uma variação entre o que
cada um acha que é conforto…
Concordo. Por exemplo, eu não posso deixar de tomar o meu
banho quente porque tenho que economizar energia. Eu devo continuar
tomando o meu banho quente, mas reduzindo o tempo ao nível
recomendado.
Mas
tem um problema de tecnologia aí, muitos equipamentos também
são pouco eficientes…
É, tem potência muito alta. Ou como alguns chuveiros,
que só tem temperatura quente ou frio… Não tem
uma escala de variação. Hoje, já tá
aparecendo alguns chuveiros que tem variação, você
regula do frio até o quente. São equipamentos que
estão surgindo por causa da eficiência que se precisa.
Se eu preciso reduzir o consumo, preciso de faixas longas de consumo,
não simplesmente morno ou quente. Quando eu mudo o chuveiro
de inverno para verão, eu reduzo o consumo de energia em
30%, mas em alguns chuveiros eu só consigo isso. Em outros,
que tem essa escala, eu consigo reduzir até 70 ou 80%.
Tem
muito "gato" no sistema elétrico aqui do Estado?
Tem muito gato, muita ligação clandestina, muito rabicho.
Normalmente, isso acontece em região de baixa renda. Classe
média quase não faz isso. Quer dizer, não faz
o rabicho. O "gato" tem por todo lugar, tem em panificadora,
tem em prédio… Itajaí é uma região
que tem muito "gato". Tem um boletim, o boletim estatístico
comercial que traz todos esses dados, ele dá quantas fraudes
têm, em que região… Existem muitos desvios e muitas
fraudes. Desvio é quando o cara faz "gato" antes
da medição, fraude é quando ele mexe no medidor.
Em
que setor é maior o desperdício: residencial, comercial
ou industrial?
É geral. A questão é conscientizar as pessoas
prá economizarem tanto em casa quanto no trabalho. Tem aquela
pessoa que liga o ar condicionado e quando sai, desliga. Mas no
serviço, sai pro almoço e deixa o ar ligado. Porque
acha que não é ele quem paga. Isso tem. E tem desperdício
de tudo quanto é tipo.
O
Sr. trabalha há bastante tempo como instrutor… Nessa
época de crise, tem procura de centros comunitários
ou escolas para saber usar a energia elétrica?
Ninguém procura. Nós temos um Programa de Conservação
de Energia na Celesc com o Procel, que trabalha muito em escolas
de primeiro e segundo grau. (…) Com associações
comunitárias, nós ainda não fizemos trabalho
sobre eletricidade. No meu ponto de vista, mesmo que a concessionária
não dê cursos, as associações deveriam
contratar para falar sobre isso. A prefeitura, ou o governo do Estado,
através do programa FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador),
poderiam fazer isso…
Quanto
Santa Catarina consome de energia elétrica e quanto economizou
voluntariamente nesse processo de racionamento?
Pela Celesc, o consumo é aproximadamente de 1 bilhão
e 67 milhões de quilowatts hora. Esse é o consumo
mensal no Estado, pelos índices de junho passado. Agora,
com a questão do Governo querer reduzir o consumo, nós
reduzimos 14,5% da demanda.
É
um consumo muito grande?
É um consumo elevado que poderia ser reduzido. Se trabalhasse
bem com um programa de conservação de energia, eu
acredito que isso poderia ser reduzido mais.
Mas
o negócio da Celesc é vender energia…
Só que ela também vai ter que comprar essa energia,
tem que ter disponibilidade do sistema prá isso…
Quanto
a Celesc gera e quanto distribui?
Ela gera 5% do que distribui: 46 milhões de quilowatts hora.
E distribui 1 bilhão e vinte e um milhões… Quer
dizer, se há economia de energia, ela passa a comprar menos
também.
No
ano passado, a Folha de São Paulo divulgou que a Companhia
Paulista (CPFL) tinha mapeado as áreas onde poderia ser produzido
um apagão, se houvesse sobrecarga no consumo. Aqui, em Santa
Catarina, foi feito algum mapeamento desse tipo?
Não, eu não tenho conhecimento, mas eu acredito no
seguinte: todo consumidor tem direito à energia elétrica.
Eu sei que tem áreas com serviços essenciais, como
hospitais… Agora, dizer que a Beira Mar Norte, que é
uma área nobre, não pode ficar sem energia, mas o
Morro da Mariquinha, pode... Isso eu não concordo. A questão
é a seguinte: como tem hospital aqui na Trindade, o Hospital
Universitário, nós também temos um centro de
saúde lá no Estreito, do lado do Morro da Mariquinha,
tem consultórios médicos e odontológicos lá
na Costeira do Pirajubaé, que também precisam de energia.
Então, a questão não é essa de mapear.
Porque por mais que você mapeie isso, você sempre vai
errar em algum ponto. O que eles podem ter mapeado é a questão
de poder reduzir em alguns pontos onde não tem serviços
essenciais. Aí tudo bem.
E
se Santa Catarina entrasse no racionamento de fato, teria gente
para fazer desligamentos ou cortes em massa?
Não teria, hoje. Como São Paulo diz que tem condições
de desligar cem mil consumidores por dia… Prá desligar
cem mil consumidores por dia, só se desligar o alimentador.
Olha só, pega o estado de Santa Catarina que tem 1 milhão
e 746 mil consumidores… Esses cem mil no estado todo, não
é nada, mas não tem condições de fazer
porque o nosso pessoal não faz só desligamento, eles
fazem serviço de emergência, fazem ligação,
corte, fiscalização… Tem uma equipe terceirizada
de corte. Isso tem. Mas é o corte no medidor que aí
o consumidor religa por conta. Esse corte de cem mil só se
desligar ramais, alimentadores, transformadores… abrir o circuito
e desliga tudo. Agora, de um por um… não tem condições.
Até porque nós temos um empregado prá atender
400 consumidores.
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