Entrevista: Energia com Segurança e Economia

Setembro/2001

Claudionor Vieira, técnico em Eletrotécnica pela Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis), funcionário, desde 1987, das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), onde começou a atuar como instrutor do Departamento de Capacitação Pessoal (CeFA) a partir de 1996.

Os assuntos principais são segurança e economia no consumo de energia elétrica

As pessoas conhecem pouco sobre energia elétrica?
Muito pouco. Se soubessem mais, não fariam o que fazem por aí… Utilização incorreta, se submetem a riscos de segurança… Não procuram um profissional habilitado que conheça a parte de eletricidade, contratam qualquer um. Acham que qualquer um faz isso. A grande preocupação com a eletricidade é o risco que ela tem porque você não vê essa energia… Então, a lâmpada não está acesa e o cara acha que não tem energia ali. Pode ter energia, pode ter uma fuga de energia, pode ter algum problema porque os equipamentos não foram aterrados como deveriam. Esse é um dos grandes problemas que vejo porque o pessoal deveria usar aterramento para se proteger contra choque elétrico. Poucos fazem aterramento. Geralmente, o fio verde, como eles dizem, está guardado atrás da geladeira, pendurado atrás do forno… Quando não têm a tomada tripolar, como tem o microondas, geralmente o pessoal não usa o fio terra. Usam muito nos prédios porque aí é obrigado pela norma a fazer aterramento, mas em residências, não.

Quais são os problemas mais comuns em instalações elétricas?
Instalação mal feita. O cara não utiliza os condutores de acordo. O fio de fase é que deve ser interrompido, não o neutro. Muita gente, em vez de ligar o fio fase no interruptor, liga o neutro. Existe risco aí. A lâmpada acende, mas na verdade ele não interrompeu o fase, interrompeu o neutro. Mesmo que eu desligue e a lâmpada apague, a fase está lá. É um risco de segurança… Quem não conhece eletricidade, acha que tá tudo bem.. "Ah, o importante é a lâmpada acender". E não é. Outra coisa: a pessoa não olha a capacidade dos equipamentos. Por exemplo, a tomada é prá 10 ampéres e o cara coloca um equipamento de 20 ou 30 ampéres…Então, derrete a tomada, pega fogo… Acham que fio grosso economiza energia. E, na verdade, não economiza. Tudo isso é risco.

De que forma as pessoas podem acompanhar o consumo mensal de energia?
Acompanhando a leitura mensal conforme calendário que a Celesc manda via fatura. Todo começo de ano, a Celesc manda esse calendário, lá no verso da fatura. Na fatura tem a data da próxima leitura… Pode acompanhar por aí e tirar também a leitura do relógio. Agora, tirar a leitura até não é difícil, mas precisa conhecer o giro dos ponteiros. Sempre tirar os números da direita prá esquerda, olhar o ponteiro anterior prá confirmar o próximo…

E se tiver alto o consumo, como faz para reduzir? Quais são os vilões?
Um grande vilão e que o pessoal, às vezes, não se preocupa é a iluminação. Reduzir a potência das lâmpadas, utilizando lâmpada fluorescente compacta, é uma maneira de reduzir o consumo. Às vezes, se usa uma lâmpada de 150 watts que não precisaria ser de 150, poderia ser de 100. Então, o consumidor tá jogando fora esses 50 watts e tá pagando por eles… O tempo de uso do chuveiro. O chuveiro tem uma potência elevada e o pessoal ainda aumenta o tempo de uso, fica vinte ou trinta minutos. Tudo isso contribui para que o consumo vá lá prá cima. Pelo Procel, o correto é 8 minutos de banho.

Conservar energia não é deixar de lado o conforto…
O que eu falo sempre é o seguinte: conservar é combater o desperdício sem eliminar o meu conforto.

O Sr. concorda que há uma variação entre o que cada um acha que é conforto…
Concordo. Por exemplo, eu não posso deixar de tomar o meu banho quente porque tenho que economizar energia. Eu devo continuar tomando o meu banho quente, mas reduzindo o tempo ao nível recomendado.

Mas tem um problema de tecnologia aí, muitos equipamentos também são pouco eficientes…
É, tem potência muito alta. Ou como alguns chuveiros, que só tem temperatura quente ou frio… Não tem uma escala de variação. Hoje, já tá aparecendo alguns chuveiros que tem variação, você regula do frio até o quente. São equipamentos que estão surgindo por causa da eficiência que se precisa. Se eu preciso reduzir o consumo, preciso de faixas longas de consumo, não simplesmente morno ou quente. Quando eu mudo o chuveiro de inverno para verão, eu reduzo o consumo de energia em 30%, mas em alguns chuveiros eu só consigo isso. Em outros, que tem essa escala, eu consigo reduzir até 70 ou 80%.

Tem muito "gato" no sistema elétrico aqui do Estado?
Tem muito gato, muita ligação clandestina, muito rabicho. Normalmente, isso acontece em região de baixa renda. Classe média quase não faz isso. Quer dizer, não faz o rabicho. O "gato" tem por todo lugar, tem em panificadora, tem em prédio… Itajaí é uma região que tem muito "gato". Tem um boletim, o boletim estatístico comercial que traz todos esses dados, ele dá quantas fraudes têm, em que região… Existem muitos desvios e muitas fraudes. Desvio é quando o cara faz "gato" antes da medição, fraude é quando ele mexe no medidor.

Em que setor é maior o desperdício: residencial, comercial ou industrial?
É geral. A questão é conscientizar as pessoas prá economizarem tanto em casa quanto no trabalho. Tem aquela pessoa que liga o ar condicionado e quando sai, desliga. Mas no serviço, sai pro almoço e deixa o ar ligado. Porque acha que não é ele quem paga. Isso tem. E tem desperdício de tudo quanto é tipo.

O Sr. trabalha há bastante tempo como instrutor… Nessa época de crise, tem procura de centros comunitários ou escolas para saber usar a energia elétrica?
Ninguém procura. Nós temos um Programa de Conservação de Energia na Celesc com o Procel, que trabalha muito em escolas de primeiro e segundo grau. (…) Com associações comunitárias, nós ainda não fizemos trabalho sobre eletricidade. No meu ponto de vista, mesmo que a concessionária não dê cursos, as associações deveriam contratar para falar sobre isso. A prefeitura, ou o governo do Estado, através do programa FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), poderiam fazer isso…

Quanto Santa Catarina consome de energia elétrica e quanto economizou voluntariamente nesse processo de racionamento?
Pela Celesc, o consumo é aproximadamente de 1 bilhão e 67 milhões de quilowatts hora. Esse é o consumo mensal no Estado, pelos índices de junho passado. Agora, com a questão do Governo querer reduzir o consumo, nós reduzimos 14,5% da demanda.

É um consumo muito grande?
É um consumo elevado que poderia ser reduzido. Se trabalhasse bem com um programa de conservação de energia, eu acredito que isso poderia ser reduzido mais.

Mas o negócio da Celesc é vender energia…
Só que ela também vai ter que comprar essa energia, tem que ter disponibilidade do sistema prá isso…

Quanto a Celesc gera e quanto distribui?
Ela gera 5% do que distribui: 46 milhões de quilowatts hora. E distribui 1 bilhão e vinte e um milhões… Quer dizer, se há economia de energia, ela passa a comprar menos também.

No ano passado, a Folha de São Paulo divulgou que a Companhia Paulista (CPFL) tinha mapeado as áreas onde poderia ser produzido um apagão, se houvesse sobrecarga no consumo. Aqui, em Santa Catarina, foi feito algum mapeamento desse tipo?
Não, eu não tenho conhecimento, mas eu acredito no seguinte: todo consumidor tem direito à energia elétrica. Eu sei que tem áreas com serviços essenciais, como hospitais… Agora, dizer que a Beira Mar Norte, que é uma área nobre, não pode ficar sem energia, mas o Morro da Mariquinha, pode... Isso eu não concordo. A questão é a seguinte: como tem hospital aqui na Trindade, o Hospital Universitário, nós também temos um centro de saúde lá no Estreito, do lado do Morro da Mariquinha, tem consultórios médicos e odontológicos lá na Costeira do Pirajubaé, que também precisam de energia. Então, a questão não é essa de mapear. Porque por mais que você mapeie isso, você sempre vai errar em algum ponto. O que eles podem ter mapeado é a questão de poder reduzir em alguns pontos onde não tem serviços essenciais. Aí tudo bem.

E se Santa Catarina entrasse no racionamento de fato, teria gente para fazer desligamentos ou cortes em massa?
Não teria, hoje. Como São Paulo diz que tem condições de desligar cem mil consumidores por dia… Prá desligar cem mil consumidores por dia, só se desligar o alimentador. Olha só, pega o estado de Santa Catarina que tem 1 milhão e 746 mil consumidores… Esses cem mil no estado todo, não é nada, mas não tem condições de fazer porque o nosso pessoal não faz só desligamento, eles fazem serviço de emergência, fazem ligação, corte, fiscalização… Tem uma equipe terceirizada de corte. Isso tem. Mas é o corte no medidor que aí o consumidor religa por conta. Esse corte de cem mil só se desligar ramais, alimentadores, transformadores… abrir o circuito e desliga tudo. Agora, de um por um… não tem condições. Até porque nós temos um empregado prá atender 400 consumidores.

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