As Ilhas dos Guarás ou as Guarazes são formadas por um conjunto de duas ilhas, Guarás Grande e Guarás Pequeno, e um rochedo, localizados na Baía Norte, próximo a Ponta do Goulart, no Saco Grande, e a Praia do Cacupé.
Esse conjunto de pequenas ilhas está cercado por águas claras e quentes e suas praias tem areia amarelada, em tom mais escuro, característico de baía, entremeada por fragmentos de cascas de moluscos.
A Ilha dos Guarás Pequeno não possui qualquer tipo de habitação, apenas um punhado de arbustos, e sua área não ultrapassa algumas dezena de metros quadrados. Já a Ilha dos Guarás Grande tem uma vegetação mais encorpada, que cobre a superfície. As pedras que cercam o litoral, formam pequenas piscinas naturais e completam a beleza cênica.
Por abrigar uma base do Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina (GBS-CBSC), o acesso é limitado.
Na face noroeste, voltada para o continente, há um trapiche que é utilizado para o desembarque de pessoas e mantimentos. Já, na face nordeste, há um pequeno molhe destinado a proteção e manutenção das embarcações utilizadas no salvamento.
História
As Ilhas dos Guarás nem sempre tiveram este nome. Até a primeira metade do século XVIII eram chamadas de “Ilha das Araras” e “Laje das Baleias”. Mas, em um mapa de 1779, que acompanhava uma carta do Conselho Ultramarino endereçada ao Marquês de Lavradio, elas já apareciam com a atual denominação. Mais tarde, num relatório de 1942, feito por Nereu Ramos e enviado a Getúlio Vargas, as ilhas foram chamadas de “Ilhas dos Guarazes“.
Segundo a tradição oral, o nome Guará faz referência a um pássaro de plumas vermelhas que era muito abundante na região, mas que hoje tem sido avistado, com raridade, apenas na porção norte do estado.
Segundo relatos do navegador Amedée François Frézier, o Guará era uma “ave pescadora”, coberta de “um belo colorido vermelho”. Já outros escritores, como o abade francês Dom A. J. Pernetty Saint-Hilaiere, relatam que o Guará tinha “o bico longo, curvo no fim; as coxas e os pés longos. As primeiras plumas que o cobrem, logo que nascem, são negras. Esta cor dissipa-se insensivelmente tornando-se acinzentada. Quando começa a voar, todas as plumas tornam-se brancas e tomam finalmente a cor de rosa, tornando-se dia-a-dia mais vermelhas, até adquirirem uma cor escarlate viva e permanente”. E depois ainda completa, “Ainda que seja voraz e carnívoro, faz ninho e põe seus ovos sob os tetos das casas e nas fendas das muralhas, como nossos pardais. Voa em grupo e os selvagens empregam suas plumas para o ornamento das suas cabeças.”
Outros registros indicam que o Guará andava vagarosamente na água rasa, com a ponta do bico submersa, abrindo e fechando as mandíbulas em busca de caranguejos e insetos.
Inicialmente o local serviu como depósito de mantimentos. Já no século XVIII, passou a ser utilizado como local de quarentena para os imigrantes que chegavam de navio ao porto de Desterro. Mais tarde, passou a funcionar como presídio, onde os presos eram deixados ao relento ou instalados em precárias cabanas cobertas de palha.
Na década de 1910 a Ilha dos Guarás Grande passou a acomodar enfermos, portadores da hanseníase (lepra), até que em 1913, por iniciativa foi do então governador Gustavo Richard, fora construídas instalações com espaço para 20 enfermos, mais o pessoal técnico e administrativo.
Posteriormente, na década de 1940, no período da II Guerra Mundial, a Ilha dos Guarás Grande voltou a servir de prisão, desta vez sob o comando da Delegacia de Ordem Política e Social – DOPS que utilizou suas instalações para abrigar os acusados de apoiar o Nazismo. Um fato curiosos da periodo foi o episódio em que um médico de origem alemã fugiu a nado até a Ponta do Coral.
Com o fim da II Guerra Mundial, as instalações erguidas em 1913 foram abandonadas e expostas a saques e depredações.
Em 1953, Irineu Bornhausen, que a época era governador do estado, promoveu uma grande festa na ilha para inaugurar a reforma que havia mandado fazer para as obras de dragagem do canal e a tentativa de revitalização do porto. Para isso, foram construídos 32 quartos, destinados aos engenheiros e mestres que atuariam na retirada dos sedimentos do canal. Foram instalados um sistema para o aproveitamento das águas das chuvas e um gerador de energia. Entretanto, a idéia não foi adiante e com o fechamento do porto em 1955, as ilhas foram entregues a novo abandono. Isso fez com que os saqueadores e vândalos voltassem a atuar.