Os Primeiros Habitantes
A história da presença humana na Ilha de Santa Catarina data de aproximadamente 4.500 anos atrás e está intimamente ligada à cultura dos sambaquis. Sambaqui é uma palavra de origem tupi-guarani, que significa “monte de conchas” e designa os sítios arqueológicos formados por depósitos de cascas de moluscos como ostras e berbigões.
Os construtores de sambaqui, ou sambaquieiros, eram pescadores sedentários e coletores. Esses primeiros grupamentos humanos se alimentavam basicamente de peixes, moluscos, crustáceos, vegetais e pequenas caças. Eles acumulavam as cascas dos moluscos e restos de outros alimentos, às vezes por gerações. Por viverem próximos ao mar, esses grupamentos chegavam a morar em cima desses sambaquis, pois eram lugares secos, livres de animais peçonhentos e ideais para se avistar o mar e o entorno das moradias. O sambaqui mais antigo foi encontrado na localidade Pântano do Sul.
Por volta do século XIV, duzentos anos antes da chegada dos europeus, vieram os Carijós. Divididos em várias tribos e aldeias, ocuparam a maior parte da área litorânea. Os Carijós eram excelentes ceramistas e já conheciam a agricultura. Plantavam a mandioca e produziam farinha, além de cultivar espécies de milho, inhame, algodão, amendoim, pimenta, tabaco e cabaça.
Receberam os brancos com grande cordialidade e curiosidade, não manifestando qualquer hostilidade. Por isso é que mais tarde foram aprisionados pelos portugueses e vendidos como escravos nos mercados de São Vicente e na Bahia de Todos os Santos.
Nomes de algumas regiões florianopolitanas, como Pirajubaé, Itaguaçu e Anhatomirim, são alguns dos referenciais históricos deixados por eles. Meiembipe, ou “montanha ao longo do canal” e Yjurerê-Mirim, ou “boca pequena”, eram denominações que os Carijós usavam para chamar sua terra.
O gradual extermínio destas tribos indígenas no litoral catarinense começou a acontecer no final do século XVII, devendo-se à escravidão e à fraca resistência às doenças trazidas pelos europeus, tais como gripe, sarampo, varíola, tuberculose, etc. Apesar dos esforços dos missionários jesuítas espanhóis e portugueses para salvá-los, aos Carijós restou um último papel: o de escravos dos europeus nos engenhos que aqui começavam a ser instalados.
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A Fundação do Povoado
Os primeiros colonizadores a se instalarem na Ilha de Santa Catarina foram náufragos e desertores de algumas expedições marítimas. Entretanto, a fundação da cidade propriamente dita só foi ocorrer em 1675. Foi neste ano que chegou à ilha o bandeirante Francisco Dias Velho, que além de impulsionar o surgimento do povoamento, acabou tendo um fim trágico, digno de um filme de aventuras. Com Dias Velho vieram sua esposa, cinco filhos, outra família agregada, dois padres da Companhia de Jesus e mais 500 indígenas.
O bandeirante, natural da Capitania de São Vicente (atual Santos-SP), teve sua trajetória marcada pela disputa de terras com os povos indígenas e com piratas de várias nacionalidades. O fundador já trazia informações sobre a existência de um pequeno comércio realizado no local onde seria instalada a cidade e sobre os povos que encontraria na região.
O primeiro passo foi a construção de uma pequena igreja onde hoje está a Catedral de Florianópolis, contando com a proteção da Santa Catarina. Em seguida foi escolhida a melhor região para a vila, começando a construção de casas e iniciando-se o plantio de novas culturas.
A Trágica sina de Dias Velho
Porém, a determinação de Dias Velho em proteger sua terra foi determinante para o seu fim trágico. Um navio pirata vindo do Peru e comandado por Robert Lewis atracou em Canasvieiras com um carregamento de prata em seus porões. Em pouco tempo, Dias Velho conseguiu expulsar os corsários, ficando com o carregamento do navio. No entanto, o comandante pirata concretizou sua vingança um ano mais tarde. Lewis retornou, recuperou sua carga de prata, violou as três filhas virgens do fundador e o matou. Com isso, a família do bandeirante e todos os seus acompanhantes retornaram a São Paulo, não sem antes concluírem a construção da capela.
A Vila de Nossa Senhora do Desterro
Depois da morte de Dias Velho, a Ilha permaneceu abandonada por alguns anos. Mas a necessidade de povoamento da região, para garantia de seu domínio, era uma preocupação dos portugueses. Florianópolis não passava de um povoado com 27 casas. O nome da localidade era Nossa Senhora do Desterro; a elevação à condição de freguesia aconteceu em 1714 e à categoria de vila em 1726. Nessa época, alguns paulistas tiveram autorização para ocupar o estado. Contudo, na Ilha, a preocupação permanecia insignificante. Esse quadro só foi se alterar substancialmente cerca de 20 anos mais tarde, com a chegada dos colonizadores açorianos.
A Colonização Açoriana
A Coroa Portuguesa criou a Capitania Subalterna de Santa Catarina em 1738, passando sua vinculação de São Paulo para o Rio de Janeiro. Mas foi no período compreendido entre 1747 e 1756 que a ocupação da Ilha realmente tomou impulso. Os constantes abalos sísmicos nas ilhas do arquipélago dos Açores, em Portugal, bem como a superpopulação, serviram de estímulo para que cerca de cinco mil imigrantes açorianos fossem levados a colonizar a Ilha e o litoral catarinense. Os primeiros imigrantes a desembarcar instalaram-se na rua próxima à Igreja, que hoje é denominada Rua dos Ilhéus em sua homenagem. Aos poucos foram sendo criadas as primeiras freguesias, como a de Nossa Senhora do Rosário da Enseada do Brito, esta última no continente, em frente frente ao sul da Ilha.
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O desenvolvimento do Centro
O acesso ao interior da Ilha era difícil e, por conta disso, o centro urbano se desenvolveu junto à parte mais próxima do continente. A agricultura de subsistência foi a primeira atividade desenvolvida pelos colonizadores, com ênfase na cultura da mandioca, que mais tarde iria atender em pequena escala ao mercado externo.
A classe mais poderosa da época era a dos militares e, devido à sua presença no então Porto de Desterro, foi necessário importar roupas, alimentos e objetos de consumo para atendê-los. Assim, surgiu próximo ao porto um pequeno centro comercial para venda de alimentos e produtos artesanais feitos pelos moradores.
A Caça às baleias
As baleias eram visitantes constantes do litoral da Ilha e, na segunda metade do século XVIII, a Coroa Portuguesa autorizou sua caça. Entretanto, a caça à baleia não representou um incremento ao comércio da região, já que a maioria do produto era enviado a Portugal. O impulso mais significativo ao Porto de Desterro com a caça à baleia foi a necessidade de abastecimento com água e alimentos a muitos baleeiros norte-americanos, que também aproveitaram para contrabandear escravos. Não demorou muito para que a atividade predatória entrasse em declínio. O primeiro motivo foi a fuga das baleias para o extremo-sul e, mais tarde, a substituição do óleo animal por querosene e depois por petróleo como fonte de iluminação. O poder dos militares na região começou a diminuir no início do século XIX, quando passam a prosperar os comerciantes, em sua maioria donos de embarcações comerciais que atuavam através do litoral catarinense.