É preciso ser grande para ter discípulos.
Ronnie James Dio, sem dúvida, conseguiu atingir este status. Prova disso é a banda Dio Disciples, formada por antigos parceiros e amigos do músico, e que atualmente roda pelo mundo celebrando a obra deste inigualável cantor. Floripa teve a honra de receber esse time no dia 14 de junho, no Célula. Antes mesmo de a casa abrir suas portas, quem estava do lado de fora já teve uma prévia do que viria, ouvindo a passagem de som da banda. Um ótimo aperitivo. Às 23 horas as portas se abriram e a legião de fãs foi recebida com o disco mais importante do ano tocando na íntegra, 13 do Black Sabbath. Para molhar as gargantas muita Heineken gelada.
Aliás, na minha opinião, melhor som de aquecimento e melhor cerveja não caberiam. Para os ouvidos, praticamente uma ressureição do heavy metal. O melhor presente que os pais da música pesada poderiam nos dar. Para a boca, o líquido dessa latinha verde, que além de ser de primeira, lembra outro grande nome da música que faleceu recentemente, Jeff Hanneman do Slayer. Ele que tocava com uma guitarra com a mesma arte da lata, mas com seu sobrenome no lugar.
Nem deu para terminar o disco, lá vieram os amigos do cara para botar fogo no ambiente. Killing The Dragon foi a primeira de uma séria matadora de clássicos. Para bom entendedor meio nome de música basta… Então confere o setlist aí embaixo e diga se estou mentindo.
Prestar homenagem à uma voz tão poderosa não é tarefa simples. Provavelmente por isso a banda conta com dois vocalistas. Tim “Ripper” Owens arrebentou! Não é a toa que ele já cantou no Judas Priest, substituindo o temporariamente Rob “Deus do Metal” Halford. Se a ideia de um tributo é levar os fãs para uma experiência parecida com a que se poderia ter com o homenageado cantando, Owens alcançou o objetivo. Nada de muitas variações pessoais sobre a forma de cantar. Seguiu perfeitamente as linhas dadas pelo mestre em estúdio.
Oni Logan também mandou bem. Mas se sua a voz não era tão potente quanto a de Owens, o visual compensava. Olhando de longe ou sem muita nitidez daria para dizer que era o próprio Dio no palco.
Algumas músicas seguiam com o mesmo vocalista do começo ao fim. Outras eram compartilhadas. The Last In Line, que possui uma linda abertura acústica, por exemplo, foi introduzida por um e continuada por outro. Já All The Fools Sailed Away foi cantada em dupla, de forma muito competente. Massa!
Nem é necessário comentar muito sobre os outros músicos. Todos incríveis, também prestando sua homenagem de forma fiel ao formato original das músicas. Craig Goldy fez solos idênticos, perfeitos. Scott Warren, com seu ventilador embaixo do teclado, tocava muito empolgado, sentindo a vibração da galera. Bjorn Englen foi certeiro nas linhas de baixo e no backing vocal.
Simon Wright foi o que mais deu sua cara a algumas músicas. Mas nada muito além de viradas de bateria um pouco diferentes. Mas ele pode… Ah, se pode. Afinal é provavelmente o membro mais conhecido da banda. Ele era amigo e tocou com o Dio por mais de 10 anos, além de ter gravado 3 álbuns de estúdio com o ACDC.
A última música antes do bis foi Heaven And Hell, acertadamente alongada, permitindo aos presentes fazer um coro que arrepiou quem estava no palco.
No bis ainda rolaram duas obras clássicas. Primeiro, Rainbow In The Dark, com aquele teclado marcante e inconfundível. Depois, para fechar a noite, Tim Owens pergunta aos presentes: “What do we do?” Só cabe uma resposta: “We Rock”!!!
Vale mencionar que não foi fácil trazê-los. Foi graças aos esforços do Alexei Leão tivemos a chance de ver isso tudo na nossa cidade. Melhor que isso, só voltando no tempo, direto para o dia 2 de dezembro de 1995, quando Dio fez um show na New Time, em Santo Amaro da Imperatriz. Eu estava lá, e por essa condição arrisco uma sugestão. Que tal uma nova turnê da Dio Disciples tocando o Holy Diver na íntegra? Seria outra justa celebração ao melhor vocalista que fez o melhor disco de heavy metal de todos os tempos.
É inquestionável a grandeza da obra deste grande mestre falecido em maio de 2010. Aquele que popularizou o símbolo mais clássico do heavy metal, dedo indicador e mindinho levantados, será sempre uma referência no estilo. A Dio Disciples, com a benção da viúva Wendy Dio, presta uma homenagem sincera e valiosa para os fãs. Floripa agradece a presença e pede mais, assim que possível.